terça-feira, 31 de maio de 2011

De volta à caixa


"Eu não sou perfeita e nunca fiz questão de ser
Minha fraqueza e força são expostas com a mesma intensidade
Não quero esconder quem verdadeiramente sou
E se há um preço para isso, eu pago.
E sei bem qual é o preço.
É muito fácil pronunciar palavras bonitas quando tudo esta bem
Mas e quando você precisa gritar para alguém? E quando tudo que você deseja é que te escutem?
E não há ninguém
Você se fecha na caixa escura, esperando a digestão de uma pedra
Porque é essa a sensação que você tem. "Tem uma pedra no meu estômago"
Aquele amor idealizado, sonhado e esperado, não existe
Foi fruto da minha imaginação
Então, não vou fazer nada, não vou viver por ninguém e nem morrer por ninguém
A insanidade é minha, e ficar é uma escolha
E escolhas implicam consequências
Agora, só quero ficar quieta dentro da caixa..."

Hanna


Não é só mais uma canção

Ela escutava constantemente as músicas de Fiona Apple. "Se existe alguém que possa me descrever, e dizer exatamente como me sinto, esse alguém é ela. Por que? Será que são nossas histórias que de um jeito ou de outro se cruzam? Ela enfrenta a rejeição, eu também enfrento. E mesmo assim, não sabe a razão de esperar. Eu sei. Estou doente. Me sujeitar a isso, só pode ser doença. Não tem nada a ver com amor. E ela expressa na voz, no seu olhar, na sua performance, toda a fragilidade, força e raiva que sinto agora" - Hanna



Tymps

Aqueles bons tempos se acabaram
Meus pés de argila, eles secaram ao pó
O vermelho não é o vermelho que nós pintamos
É... apenas... ferrugem
Aquela coisa de assinatura que costumava trazer uma continuação
Eu tenho problemas agora, até para lembrar

Então por que o beijei tão fortemente tarde da última noite de sexta-feira
E continuei permitindo que ele mudasse todos os meus planos?
Ou eu estou muito doente da cabeça e preciso sangrar até secar para me curar
Ou eu simplesmente costumava amá-lo
Com certeza eu espero que seja isso

Eu sei que manter contato só me faria mal
Porque não é o ímpeto de lembrar, é apenas luxúria
Aquela coisa de assinatura está apenas ficando mais angustiosa
Eu deveria não ter problema agora para evitar seguir

Então por que o beijei tão fortemente tarde da última noite de sexta-feira
E continuei permitindo que ele mudasse todos os meus planos?
Ou eu estou muito doente da cabeça e preciso sangrar até secar para me curar
Ou eu simplesmente costumava amá-lo
Com certeza eu espero que seja isso

Fiona Apple

domingo, 29 de maio de 2011

...


"O que esperar agora?
O que o futuro me reserva?
Agora que joguei todo o passado no ventilador
E todos estão sabendo da minha bagunça
Mas eu sei, no fundo sempre soube
Que ninguém poderia me consertar
E que só eu posso me resgatar de mim mesma
Ninguém poderá me dar o que preciso
Meus cabelos vão cair
Os dentes vão ficar amarelos
Meus ossos ficarão expostos
O sangue vai jorrar dos meus olhos
Vou sofrer por dias e noites
Até encontrar um caminho
Um caminho só meu, e vou andar sozinha
Porque eu conheço minha força
E se é na solidão que me encontro
É lá que vou ficar
Não preciso de palavras vãs
Palavras que serão sempre palavras
Só preciso de mim neste instante
Vou reencontrar minha paz, porque esperar já me trouxe muita dor
Não preciso e nem quero piedade
O que eu quero e preciso, ninguém pode dar..."

By: Hanna

Naquela noite


Era sábado. Hanna estava sozinha quando escutou o interfone. "Quem será? Ninguém vem aqui, ainda mais em um sábado à noite!" - pensou, e exitou por alguns instantes atender, afinal, já estava um pouco tarde e ela estava preparada para dormir.
Vestida apenas com uma camiseta, Hanna se arriscou e atendeu:
- Quem é?
- Sou eu Hanna, abre pra mim!
Era ele! O homem que ela pensava ser seu namorado, e que havia dito palavras tão afiadas quanto um punhal. Ele, o homem para quem Hanna nunca conseguia dizer "não", estava ali pedindo para entrar em seu apartamento.
Ela abre o portão, sentindo-se feliz, pois acreditava que pudessem conversar, esclarecer o que tinha acontecido, enfim, falar de seus sentimentos e do quanto ficou magoada.
Hanna não se preocupa em se trocar e espera pacientemente pela batida na porta. Ela enfim escuta, e corre para abrir, mas quando a porta finalmente é destrancada, Hanna é surpreendida não com um homem apenas, mas três! Seu namorado havia levado dois amigos, algumas bebidas e não estavam em estado normal. Riam muito, falavam coisas sem nexo, e sequer pediram permissão para entrarem.
Hanna fecha a porta sem entender o que estava acontecendo e constrangida pelas suas vestimentas chega para o namorado e pergunta:
- O que é isso? Como você aparece aqui sem avisar, e ainda traz com você dois amigos?
- Ô meu amor, estava com saudades! A gente veio fazer só uma farrinha, não se preocupa, a gente só vai beber um pouco, fumar um brown, e eu tenho certeza de que você esta com vontade, não esta? Depois a noite vai ser só nossa. Prometo! Nossa que saudades que eu senti!
Ele a beija e lhe dá um abraço. Como já era esperado, ela não consegue dizer "não", e se rende aos carinhos de seu amado.
Senta-se na cadeira e eles lhe oferecem bebida. Começa tomando vinho, fuma um pouco de baseado e olha para o namorado. Ele parecia feliz e não demorou muito para que ela também fosse contagiada por aquela alegria. Conversas sem sentido, gargalhadas, fizeram com que Hanna se sentisse bem e não viu mal algum em desta vez tomar vodka, absinto e mais um pouco de baseado.
De repente, foi tomada por uma espécie de transe, nada era real e seu corpo, sua mente não lhe pertenciam mais. Não sabia ao certo nem quem estava ali e sobre o que falavam, só sentia como se seu espírito tivesse saído do seu corpo e observava tudo como um voyer.
O namorado a leva para o quarto. Ela ria sem motivo, e ele a silencia com um beijo. Começa então a despí-la, a porta estava entreaberta e ela conseguia enxergar com uma visão turva que os dois amigos observavam da sala. Pede quase implorando:
- Para! Seus amigos estão me vendo, ao menos feche a porta!
-Relaxa Hanna, fica tranquila! É só uma brincadeira! Você não gosta dessas loucuras de vez em quando? Então? Que mal há nisso?
Hanna é empurrada para a cama, já nua, e o namorado tira a roupa com rapidez, deita sobre ela e a penetra. Hanna estava meio morta, não conseguia sequer sentir prazer, apenas observava, apesar da penumbra que os dois homens na sala olhavam fascinados aquela cena.
Amanhece e Hanna acorda nua, sua cabeça girava, dava voltas, ela então corre para o banheiro e vomita. Estava fraca, sentia uma forte dor de cabeça, e apoiando-se nas paredes vai até a sala e olha as garrafas vazias, cadeiras no chão, bitucas de cigarro por todos os lados.
Volta para o quarto às pressas e acorda o namorado:
-Levanta! Acorda! O que foi que aconteceu?
-Que que é?
- O que é sou eu quem pergunto! Que aconteceu? Onde estão seus amigos?
-Foram embora, se divertiram um pouco com a nossa performance, e saíram. Você nem viu, caiu logo no sono.
-Você deixou que eles nos vissem transando, é isso?
Insistindo por algum esclarecimento, o namorado se levanta impaciente e a joga no chão. Hanna fica inerte, estava ainda fraca e apenas olha para cima com os olhos cheios de água. Ele se limita em dizer:
- Para de fazer drama! Que coisa! Não se pode nem dormir! Vai dizer que não gostou Hanna? Diga! Diga que não gostou! Eu vi sua carinha de satisfação, você ria, falava alto, e agora quer se fazer de vítima, por quê? Olha isso não vai funcionar comigo, você já conseguiu me irritar.
Ele então se veste rapidamente, sai e deixa a mulher nua ainda no chão.
Hanna se rasteja até um canto da parede e fica ali, deitada sobre o chão frio. As lágrimas desciam uma a uma, ela então se encolhe tal como uma criança e fica nesta posição até adormecer.

sábado, 28 de maio de 2011

Ela escreve...


"Ele nem sabe que fiquei doente.
Não sabe da minha força e nem da minha fragilidade.
E eu só queria acertar, mas não consegui
Por que você não pode ao menos tentar meu bem?
É tão difícil assim? É tão difícil me amar?
Suas palavras duras vão ecoar para sempre na minha memória
E minha pele vai ficar mais espessa, mais dura
Simplesmente não posso mais esperar
Meu erro foi acreditar que você pudesse me resgatar
E agora, não consigo sequer me lembrar do seu toque
Tudo o que vivemos e dissemos transformou-se em um passado doloroso, que preciso apagar
Será que errei sozinha?
Sim eu errei. Não disse "não" quando deveria, me perdi com suas palavras e com a esperança de uma vida diferente.
E eu não soube enxergar os sinais, eles estavam ali o tempo todo, mas minha cegueira me impediu de ver que você nunca deu a mínima para mim.
Então, por que me fez acreditar? Se eu soubesse que seria apenas um passatempo, lidaria melhor com a situação.
Você não me conhece. Nunca quis conhecer. Era só sexo, não é meu bem?
E agora que tive os sonhos quebrados, estarei disposta a recomeçar?
Porque sinto como se uma casca dura nascesse sobre minha pele, e meu coração.
Você alimentou minha fúria e puxou meu gatilho
A bala atravessou meu peito e o sangue jorra todos os dias. Não consigo estancar!
Agora eu sei que você precisava do meu sangue para alimentar seu orgulho
Então, já que conseguiu o queria, me deixe!
Saia do meu caminho! E permita que eu viva, apenas viva..."

Hanna

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A tentativa de ser uma "Mia"


Todas aquelas palavras que Hanna ouviu àcerca de seu peso, estouravam todos os dias em seus tímpanos como se fossem rojões. Lembrava-se constantemente das humilhações que sofreu na infância e na adolescência, e não conseguia esquecer por mais que tentasse.
Se olhava no espelho, experimentava todas as roupas e odiava a imagem refletida, era inútil, por mais que tentasse se conformar, as ofensas se tornaram uma verdade inquestionável para ela, era irreversível.
Os sentimentos acerca de si mesma eram ambivalentes, as vezes pensava que alguém gostaria dela daquele jeito, e as vezes pensava que as coisas só aconteceriam se emagrecesse. Mas o pior era não poder compartilhar com ninguém esses pensamentos que a consumiam a cada dia mais. Sentia vergonha de si mesma, de ser quem era, Hanna estava com vergonha até de existir.
Certo dia, já sufocada por suas angústias, sentou-se para escrever e redigiu a seguinte frase: "eu devia tentar algo radical para emagrecer. Se eu começar a vomitar, talvez não sinta tanta culpa."
Hanna sabia o que isso significava. Estava tão obcecada que tentou desenvolver algum distúrbio alimentar, porque em sua mente era preferível ficar doente, pois assim pelo menos seria magra. Estava disposta a tudo, era como se não tivesse nada a perder.
Quando terminou de escrever a frase no seu computador, não pensou duas vezes e correu para o banheiro. Abriu o armário e pegou sua escova de dentes, olhou para aquele objeto em suas mãos e se perguntava se estava certa do que queria: "sim, preciso fazer isso. Vou conseguir, depois vai ficar mais fácil, o início é sempre mais difícil" - dizia na tentativa de se convencer.
Hanna se agacha em frente ao vaso sanitário e inclina a cabeça. Fecha os olhos e coloca a escova de dentes dentro da boca, tentando abrir o máximo para que a escova alcansasse sua garganta. Doía e ela parava. Recomeçava o ritual, mas quando sentia dor, parava. Ficou nesse processo até sua garganta sangrar e as lágrimas brotarem dos seus olhos.
Persistindo nesse ritual sádico, Hanna vomita, mas ao fazê-lo é tomada por uma tontura e com muita dificuldade consegue se levantar e ir para o quarto. Estava fraca, pálida, a garganta doía e sangrava, e a verdade que para ela era incontestável, continuava ali dentro, não tinha ido embora com o que fora expelido.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A raiva


Hanna estava perdida dentro daquele apartamento. Era um espaço que não cabia tantos sentimentos contraditórios. Sentia saudades de casa, saudades de seus pais, mas também sentia raiva por não poder compartilhar com ninguém o que lhe afligia. Era sempre a mesma história:
-Esqueça! Homem é assim, eles não sabem dar valor!
"Homem é assim o caralho!"- pensava, mas não dizia nada, embora não concordasse com essas generalizações.
Ela senta em frente ao computador e começa a escrever:
"Tenho raiva. Tenho raiva de mim e da pessoa que me envolvi. Tenho raiva até dessa necessidade estúpida de escrever, como se eu fosse uma menina de 15 anos estreando o diário que ganhou de aniversário. Porra! Eu escrevo para que? Para quem? Será que alguém lê?
Não importa! Porque escrevo para mim, porque me sinto sozinha e essa foi a forma que encontrei de me exorcisar. Não sou escritora, e ninguém precisa me dizer isso, e por esta razão não quero ser julgada por nada que for externado aqui.
É a minha vida, se faço desse blog um diário problema meu! Leia quem quiser. Só saibam que hoje estou com raiva. A gente faz e fala o que deseja e me chamam de vagabunda! Que merda de hipocrisia! Ninguém precisa me dizer dos riscos que corro, todo mundo só fala isso, mas ninguém vê quando choro sozinha aqui nesse apartamento. Cadê essas pessoas quando pego a lâmina e me corto? Só sabem julgar e condenar. Fodam-se! Ainda espero ser resgatada..."
Era uma indignação com tudo que estava acontecendo, pelas escolhas erradas, pela faculdade que já não fazia mais sentido. Aliás, nada mais fazia sentido para Hanna, a raiva e a culpa se misturavam e ela sabia que dificilmente se livraria de tais sentimentos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O grito

Hoje ela queria ouvir essa canção. A música representava o grito que ela sempre quis soltar, mas nunca conseguiu. Ficou atravessado na sua garganta por anos, e agora é como se finalmente a voz começasse a sair, e o vídeo era a representação fiel do que havia se tornado sua vida...



Você quer me adoentar
Você quer lamber minhas feridas
Não quer, meu bem?
Você quer a medalha de honra quando salva meu couro
Mas você é aquele no caminho
Do dia de destruição, meu bem
Se você precisar da minha vergonha para reclamar seu orgulho

E quando eu penso nisso, meus dedos se tornam punho.
Nunca fiz nada para você, homem.
Mas não importa o quanto eu tente
Você me atingirá com suas amargas mentiras
Então me chame de louca, me agarre.
Me faça chorar, saia agora, meu bem
Não demorará até que você esteja
Caindo, flácido, nas suas próprias mãos.

Você alimenta a fera que tenho dentro de mim
Você balança a bandeira vermelha. Meu bem, você a faz correr, correr, correr.
Das linhas secundárias, se balançando e sorrindo maliciosamente.
Você afaga meu gatilho e culpa minha arma

E quando eu penso nisso, meus dedos se tornam punho.
Nunca fiz nada para você, homem.
Mas não importa o quanto eu tente
Você me atingirá com suas amargas mentiras
Então me chame de louca, me agarre.
Me faça chorar, saia agora, meu bem
Não demorará até que você esteja
Caindo, flácido, nas suas próprias mãos.

Fiona Apple

Ela ainda esta quebrada...


Hanna não sabia ao certo o motivo de estar envolvida com uma pessoa tão volúvel e que por diversas vezes já tinha deixado claro que os sentimentos que ele nutria por ela, eram bem diferentes do que ela gostaria. Hanna queria que ele a amasse, mas ao invés disso, recebia o contrário.
Vez ou outra o namorado saía sem dar explicações, não telefonava, ficava uma semana fora e depois voltava como se nada tivesse acontecido. "Por que não consigo dizer não? Por que me sujeito a isso?" - eram esses os questionamentos de Hanna, mas ela não tinha resposta. Só sabia que estava ficando doente, já não tinha mais certeza se o que sentia era paixão ou uma dependência cega pela falta da família e dos amigos.
Certa noite, depois de fazerem amor, este homem virou-se para Hanna e disse sorrindo:
- Nossa! Não sei como você consegue fazer sexo tão bem!
Ela não entendeu aquilo, e sem pensar muito perguntou:
- Como assim? Não entendi o quis dizer.
Hanna ainda estava em estado de êxtase quando fez essa pergunta. Esperava ouvir algo romântico, ou até mesmo erótico, mas ao contrário de sua vontade, obteve a seguinte resposta:
- Ah Hanna porque assim, sempre gostei de muheres bem magras, e eu nunca pensei que uma gordinha tivesse tanta agilidade na cama.
Ela olha fixamente para ele sem saber o que dizer. Não tinha certeza se sentia-se ofendida ou lisonjeada. A única coisa que conseguiu pensar naquele momento foi: "então eu sou gorda, é isso que ele pensa de mim".
Naquela noite, Hanna não conseguiu dormir, aquelas palavras martelaram seu corpo, sua mente, até se convencer de que todos os apelidos que recebeu na infância sobre seu peso, não eram apenas brincadeira. Para ela, isto tinha se confirmado naquela noite. "Sou gorda, sempre fui" - pensava consigo enquanto andava sozinha pelo apartamento.
O namorado, o homem que Hanna acreditou que a resgataria de toda aquela solidão, foi embora. Quando a porta se fechou, Hanna sentiu ódio, ódio dele e de si mesma. Arrancou a roupa violentamente e correu para a frente do espelho, chorava e dizia: "você é horrível, é gorda, você nunca vai ter dele o que você espera, patética!"
Hanna adoeceu. Chegou a acreditar que estava perdendo a razão, pensava que nada era real, andava nas ruas e pedia para que algum carro a atropelasse. Sua autoestima estava partida, não conseguia mais se interessar por absolutamente nada e nesses momentos ela queria voltar para casa. Queria os braços de sua mãe, queria poder deitar no colo de alguém e chorar, apenas chorar.
Alguns dias depois e Hanna já estava de pé. Sem notícias daquele homem, ela cantarolava uma de suas canções preferidas: "Baby estou indo embora, meus sentimentos por você estão decaindo bem na minha frente como uma carne em estado de putrefação". Cantava esses versos porque era o que sentia, e além de cantar, escrevia essa frase no computador e ainda acrescentava: "meus sentimentos estão decaindo e não vou fazer nada para que mude. A carne vai apodrecer e eu vou assistir inerte, apenas observando."

domingo, 22 de maio de 2011

Autoestima quebrada


Era uma noite de sexta-feira e Hanna estava no seu apartamento com o namorado. Naquela noite, Hanna sentia-se carente e seu corpo clamava por um pouco de amor, ela amava o namorado e sempre se dispôs a agradá-lo em todos os âmbitos. É isso que as mulheres apaixonadas fazem, e o que elas esperam? Um mínimo de retribuição para início de conversa... Já era tarde, estavam assistindo um filme, mas aquela não era a sua vontade. Foi tomada por um desejo quase incontrolável, e como nunca fez questão de mascarar seus sentimentos não pensou antes de propor ao namorado que tomassem um longo e delicioso banho. Hanna gostava dessa sensação de corpos molhados, mas sobretudo a intimidade que esse momento aparantemente simples proporcionava a um casal. Gostava dos abraços e beijos e a água presenciando e estimulando cada carícia. Na sua concepção não podia haver algo mais erótico e romântico. Sem pestanejar Hanna vira para o namorado e diz com uma voz dengosa e carente:
- Amor, toma banho comigo hoje?
O namorado sem sequer olhar para seu rosto responde-lhe enfaticamente: -Espera! Quero ver a atriz que vai aparecer na próxima cena do filme. Ou então, podemos ser rápidos para que eu não perca.
Hanna perde a voz ao escutar essas palavras. E aquele homem que estava ali deitado no seu colo, olha bem para seus olhos e começa a rir. Hanna pergunta do que estava rindo. E ele ironicamente diz que achou graça da cara dela, e diz ainda que ela podia ir sozinha porque não estava com vontade naquele momento. Ela corre para o banheiro, liga o chuveiro e começa a chorar baixinho. Fica nua em frente ao espelho e procura obsessivamente todos os defeitos do seu corpo e se perguntava o que havia de errado com ela. "Será que estou sendo muito sensível? Por que achei grosseiro e desnecessário ele dizer isso na minha cara?" - e Hanna se fazia essas perguntas na tentativa de aliviar seu mal estar, mas não adiantava, cada pergunta que se fazia a resposta era uma só: "eu sou o problema". Tomou seu banho, vestiu-se e foi para a cama. Em seguida, o namorado fez o mesmo ritual, e deitou-se ao lado dela acariciando seus seios, seu sexo, sem dizer absolutamente nada,e Hanna fica imóvel na cama, e enquanto aquele homem que ela já não reconhecia mais, buscava satisfazer seu prazer, a única coisa que Hanna conseguiu sentir foi asco. Sem se importar com o que Hanna fazia, o namorado goza, vira e dorme. Exatamente nessa sequência. Ela então se levanta, chora um pouco na cozinha, vai até o computador e começa a escrever: "QUERO GRITAR! QUERO VOMITAR! ESTOU COM NOJO DESSE HOMEM, MAS SOBRETUDO TENHO NOJO DE MIM MESMA!" No dia seguinte, Hanna se encontra com suas amigas da faculdade, e lhes conta o que havia acontecido, elas começam a rir e dizer:
- Como você é boba! Homem é assim mesmo! Ele disse isso para te provocar, não percebe?
Hanna fica estarrecida com o que acabara de ouvir. Somente uma de suas colegas, disse-lhe num gesto de solidariedade:
- Amiga, você não precisa passar por isso. Valorize-se! Olhe para você, você é linda, inteligente. O que faz com um homem desses?
Aquelas palavras serviram para que Hanna criasse coragem, virasse para as outras e dissesse:
- Olhem, é por isso que existem homens como este. É por causa de vocês que acham tudo normal, que tudo é permitido! Acham que eles podem dizer o que quiserem, e nós temos que aceitar submissas e estar prontas para satisfazer os desejos deles a hora que eles bem entenderem. Sinceramente, não sei quem é mais machista, se são vocês, ou se são os homens...
-Hanna acho que você esta exagerando. Isso não significa que ele não gosta de você...
-Estou exagerando? Pois que seja! Se não significa que ele não gosta de mim, também não significa que gosta. E eu me senti mal com o comentário, nunca tive a autoestima elevada e também nunca me preocupei em esconder isso de ninguém. E agora eu pergunto: será que vocês e ele poderiam ser um pouco mais sensíveis? Hanna se levanta da mesa, e vai embora. Chegando no apartamento, encontra um homem deitado, nu e ainda dormindo. "Eu deveria expulsá-lo daqui. Porco!" - disse para si mesma, mas ao invés disso, sentou-se na sala e começou a pensar que mesmo que o expulsasse dali, não adiantaria. O estrago já estava feito...




quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não é só cansaço


Naquela noite Hanna se sentia cansada. Não era um cansaço normal, era cansaço de uma vida, exausta de ser a "decidida", "independente", quando na verdade não era absolutamente nada disso.
Era uma garota assustada, atormentada pelo passado, com medo de que acontecessem as mesmas coisas: mentiras, traições, palavras ao vento, violência, estupro. Era um medo que ela não podia controlar, estava acima de suas forças e era sempre a mesma história: um novo relacionantmento e os velhos medos, as velhas incertezas e inseguranças.
No entanto, apesar de tantos sentimentos negativos ela ainda alimentava alguma esperança de que poderia reescrever seu destino. "Mas como faço isso? Se sempre encontro as mesmas pessoas que de um jeito ou de outro me tratam da mesma forma. Então, o problema esta comigo, eu que sou exigente demais, intolerante demais, romântica demais, tola demais!" - se olhava no espelho e dizia para si mesma o quanto se sentia patética.
"Hoje estou cansada, não quero lutar. Hoje não. Só não sei se amanhã ainda terei vontade de continuar..."

Foi só mais uma noite...


Era uma noite de sábado e Hanna decidiu ir a uma boate que ficava perto de sua casa, estava se sentindo entediada e sozinha, o lugar era bem frequentado e pensou que naquela noite precisava fugir um pouco de si mesma.
O ambiente era bonito, com luzes por toda a parte, decoração moderna cheia de estilo. Parecia um outro mundo, pelo menos para Hanna que estava acostumada a viver sozinha no seu pequeno apartamento.
Para aquela noite ela tentou se produzir e se sentir bonita. Vestiu uma calça com uma blusa preta que tinha um decote generoso na frente, revelando seu colo e parte dos seios. Não era nada vulgar, era algo que chamava a atenção e fazia Hanna se sentir especialmente sensual. É claro que havia um pouco de provocação, não era só uma questão de autoestima, é que ela gostava e achava até engraçado o jeito que certos homens a olhavam. Alguns olhares a faziam se sentir bonita, mas outros eram tão evidentes e indiscretos que logo a palavra "babaca" vinha à sua mente e Hanna ria sozinha dos pobres coitados.
Quando chegou ao local, já foi logo pedindo uma bebida e todos a olhavam com cara de espanto, imaginando o que uma mulher faria sozinha naquele ambiente. Hanna não queria saber, tinha tanto direito de se divertir como qualquer um ali dentro, afinal, tinha pagado como todo mundo.
Não demorou muito para que ficasse ébria e começasse a dançar sem se importar com nada. Ah que sensação maravilhosa! Sentia como se os problemas fossem inexistentes, fechava os olhos e só sentia a canção, seu corpo já não obedecia mais a mente, mas sim a música e ela se deixava levar sem se preocupar se estaria ou não no ritmo.
Após algumas músicas, Hanna olha para o lado e percebe que esta sendo observada por um homem que lhe chama a atenção. Estava bem vestido, era alto, moreno, com um olhar penetrante e enigmático que despertou o interesse de Hanna.
O homem ao perceber que estava sendo correspondido, se aproximou e se apresentou: Gabriel. Conversaram e beberam juntos, ele era extremamente encantador. "Eu poderia ter uma noite de amor com ele. Sim, por que não? É bonito, simpático, inteligente e esta interessado em mim." - Hanna pensava e já não fazia mais questão de esconder os olhares e corresponder aos flertes.
Gabriel a beija. Ela se sente envolvida por uma sensação absolutamente surreal, não poderia descrever, só sentia que um calor incendiava seu corpo e já não conseguia mais deter as mãos que percorriam seu corpo.
"Vamos sair daqui" - Gabriel propõe sem fazer média e Hanna entorpecida pelo vinho e pelo desejo não pestanejou: "vamos".
Vão para um motel e lá chegando, Gabriel começa a tirar sua roupa e agarrar Hanna como se quisesse engolí-la. "Espere!" - ela pede quase ordenando, afinal onde estaria aquele homem galanteador que parecia ser diferente dos símios que tinha conhecido utimamente? "Esperar o que? Estou louco de tesão" - Gabriel despe Hanna e a beija violentamente. Ela estava excitada também, mas se sentia incomodada quando Gabriel começou a morder seus seios, e lamber seu rosto. "Ok. Vou ter paciência e ensiná-lo como se faz" - pensava consigo, e tentava acariciá-lo, mostrar-lhe aquilo que ela verdadeiramente gostava e esperava de um homem.
Foi inútil. Gabriel a jogou na cama, colocou a camisinha e a penetrou. "Mas assim? Do nada? Sem sexo oral, sem beijos, sem preliminares? Eu nem estou lubrificada!" E ela só queria que ele gozasse logo para irem embora dali.
Hanna não sabe quanto tempo levou aquele movimento de entra e sai, só sabia que tinha demorado mais do que queria. Gabriel enfim tem seu tão esperado orgasmo, levanta da cama se limpa rapidamente e começa a se vestir. "Vamos então?" - fala para a mulher nua deitada na cama esperando ainda um pouco de prazer.
Ao chegarem na porta do edifício, Gabriel diz:
- Adorei a noite!
Hanna teve vontade de esbofeteá-lo, mas se conteve:
- Gostou? Pois eu não! Sinto muito, mas você é do tipo que só sabe falar, mas na realidade não sabe nada sobre o prazer feminino! Ou você é muito egoísta para perceber o que uma mulher quer, ou então não passa de um narcisista que acredita que vou ficar excitada com sua nudez!
Você não sabe que o prazer da mulher vai muito mais além? Desconhece as preliminares? Pois é isso que excita uma mulher! E sabe o que é mais revoltante nisso tudo? É saber que você vai se gabar com seus amigos amanhã, dizendo que pegou uma gostosa na boate e que ela ficou completamente louca e apaixonada! Pois saiba que comigo acontecerá o contrário, quando encontrar com minhas amigas vou contar da noite decepcionante que tive, que o homem que conheci mordia meus seios como se tivessem uma casca dura por cima, e não teve sequer a curiosidade de saber como é meu sexo! Acha que sexo casual não precisa ter respeito, sensibilidade? É por isso que me canso! Os homens parecem achar que o sexo por ser casual, é cada um por si, cada um que encontre o seu prazer! Pois isso para mim esta errado!
E o seu beijo? Precisava colocar toda a sua língua na minha boca como se quisesse me devorar viva? Na boate você não me beijou assim, o que era? Queria me convencer de ir para a cama com você? Você decepciona a ala masculina meu caro...
Hanna olhou atentamente para o rapaz, mas não lhe disse nada. Todas essas palavras passaram pela sua cabeça e ela simplesmente desceu do carro e correu para seu apartamento.
Não deixou de pensar um minuto sequer em tudo que aquele espécime deveria ter ouvido. E se pergutava o motivo de não ter dito. "É simples, ele não ia entender uma só palavra." - pensou consigo.
Hanna não queria nenhuma paixão naquela noite, só queria sentir um pouco de prazer, afinal, por que não podia sentir? Só porque era mulher e foi para a cama com o primeiro que encontrou? "Ora essa! É por isso que me masturbo. Conheço meu corpo e sei me dar prazer." - foi para cama pensando isso e pensando também que não estava certo, essa situação tinha que mudar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A carta


Naquela manhã, Hanna recebe uma carta estranha. Não tinha remetente, nem endereço. " Que estranho, nunca recebo cartas, só e-mails!" - disse a si mesma, e então abre violentamente o envelope e começa a ler. A carta tinha os seguintes dizeres:

"Cara Srta. Hanna: Escrevo esta cara para dizer-lhe o que penso ao seu respeito. Não consigo definir se a srta. é ainda uma garotinha ou uma mulher. E a razão é simples: a srta. age por vezes como uma menina assustada e por vezes como mulher. Decida-se! Agindo assim, ninguém haverá de lhe querer minha cara, não há ser humano no mundo que suporte essa inconstância. Um dia a senhorita esta bem, no outro já não sabe mais o quer. Por que não pode agir como as outras mulheres e aceitar suas condições? Desculpe se pareço rude, mas a senhorita beira o ridículo com todas essas indagações existenciais. Aposto que nunca leu sequer um livro de filosofia! Ninguém aguenta mais seus discursos, você tornou-se tão repetitiva, grita as mesmas coisas e não percebe que ninguém a escuta! Vai gritar até quando? Até perder a voz? Essa sua ideia infantil sobre relações entre homem e mulher não existe, é uma fantasia que você criou para que sua infelicidade não domine completamente sua vida. Aceite as coisas como são. Não tente mudá-las ou sofrerá mais do que tem sofrido. É só um conselho, é que ninguém aguenta mais sua ladainha. Atenciosamente: Um amigo"

Aquela carta foi como se Hanna tivesse levado uma bofetada. Quem era afinal esse "amigo"? Por alguns minutos, Hanna ficou se perguntando se aquele desconhecido não teria razão. Hanna esperou que todas aquelas palavras fossem digeridas e de repente, foi tomada por uma raiva descomunal e embora soubesse que não poderia dizer tudo que queria, pois não sabia quem era o autor da carta, correu para o computador e começou a digitar:

"Caro amigo: Gostaria de saber quem o senhor ou senhora pensa que é para julgar-me e questionar meus sentimentos pensamentos. Acaso é Deus? Acaso tem recebido reclamações por parte de outras pessoas sobre meus escritos? É algum justiceiro? Não! Penso que deve ser um homem que ainda diz "uga uga", e que ainda acredita que mulheres não devem pensar sobre absolutamente nada! Pois saiba que se o preço por pensar o que penso for a solidão, então fico sozinha! Prefiro isto que me conformar com uma vida que não quero! E lhe digo mais: se toda essa incoformação me custar a vida, pois aconselho ao amigo que encomende logo meu caixão! Respondendo sua pergunta sobre filosofia, não eu não leio os filósofos que certamente o senhor deve estar acostumado a ler e que o faz pensar que é o detentor do saber! Pois que fique muito claro meu amigo, que não é preciso conhecer filosofia para levantar questionamentos. Ao nos perguntarmos "quem sou eu?", já estamos filosofando! Se não se interessa sobre o que escrevo, é simples: não leia mais! Mas se acaso me mandar outra carta, por favor tenha a descência de se identificar, pois seu anonimato já denuncia o quão covarde é! Posso estar equivocada com meus pensamentos, mas de ser covarde o senhor não poderá me acusar, já que termino essa postagem assinando meu nome com letras maiúsculas! Atenciosamente: HANNA
P.S: Continuarei sendo ridícula se o senhor assim me vê. Creio que o direito de escolha me pertence."

Hanna posta em seu blog tudo o que havia escrito, não queria saber se seria lido ou não. O fato é que escrever trouxera-lhe alívio e a certeza de que continuaria a ser como era. Não abaixaria sua cabeça, e jamais agiria da forma como os outros achavam correto.
"Tenho coragem para assumir minhas fraquezas, minha força, mas sobretudo tenho coragem para assumir quem sou." - dizia e escrevia repetidamente não na tentativa de se convencer de algo, mas porque era essa a única verdade que sabia sobre si mesma.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Não sou apenas uma...


Hanna ainda não sabia lidar direito com certos sentimentos. Era intensa, não sabia viver nada pelas metades, embora sua personalidade fosse totalmente ambivalente. Sim! Se havia uma palavra que a descrevesse, era essa: ambivalência, ou dualidade, não importa. O que importava era que Hanna queria ter uma existência apenas, talvez assim soubesse lidar melhor consigo mesma. Ela tinha uma certeza estranha de que jamais alguém se apaixonaria por ela. Não era nenhum sentimento de autopiedade ou algo parecido, é que sentir, pensar e agir como ela lhe custaria muito. Hanna não era mais criança e sabia que a sociedade exigia um comportamento que ela se recusava. "Afinal o que sou? Acho que sou uma farsa, uma invensão, eu me criei, sou uma junção de todas as mulheres que admiro na esperança de conseguir sobreviver nesse mundo caótico. Sou então uma personagem de algum filme, é isso, a vida para mim é um filme só que sem o final feliz". - Hanna repetia sozinha esses devaneios no seu quarto. Ao mesmo tempo em que queria ser incomum, se sentia também como as demais mulheres. "Por que essa obsessão tola por amor?" - e Hanna se odiava pela ausência de algo que sonhou em ter, mas que lhe foi negado. Não conseguia mais acreditar em romances, sua concepção havia mudado, queria palavras somadas com atitudes. "Por que grito tanto por isso e ninguém escuta? Será que ninguém consegue entender? Estou pedindo muito?" - acreditava que se fizesse essas perguntas obteria alguma resposta. As respostas nunca vinham. E isso aumentava sua desorientação até e o cansaço tomar conta da sua mente, do seu corpo. Pronto. Se dava por vencida. No entanto, esse suposto conformismo durava algumas horas, e Hanna pensava e sentia tudo novamente. "Então é isso, sou uma inconformada."

sábado, 14 de maio de 2011

Hanna se ama


Embora tivesse sofrido abusos, Hanna era uma mulher extremamente sexual. Toda violência sofrida parece ter tido um efeito inverso, sua libido ficou mais aguçada e era como se ela merecesse sentir prazer para esquecer toda a dor que havia sofrido.
"Sexo não rima com dor, e não é isso que quero para mim". Esse era seu lema! Queria experimentar todos os tipos de orgasmos, todos os prazeres, queria expandir seus sentidos.
As vezes seu corpo queimava, ardia, clamava por um toque, uma carícia que fosse, mas a maioria dos homens que encontrou não entendia, não sabia como lidar com uma mulher que não tinha medo de revelar seus desejos, de dizer o que queria, suas fantasias e suas intimidades.
Gostava de sentir seu corpo, da sua pele. E nessas horas era como se estivesse tocando uma seda leve e perfumada. Observava seus seios, e comparava-os com dois botões de rosa que deveriam ser cuidadosamente estimulados e beijados.
Hanna olhava fixamente seu sexo e reparava como era pequeno, parecia uma maçã pronta para ser mordida. "Há tanto para ser explorado, e os homens parecem desconhecer essa fonte inesgotável de prazer, ou talvez sejam egocêntricos demais para perceberem como satisfazer uma mulher." - era isso que pensava enquanto se olhava e então, agia como gostaria que um homem fizesse. Sem medo, ou qualquer tipo de intimidação, Hanna podia ser amada por ela mesma sem ser recriminada. "Esse é meu momento" - dizia a si mesma. Observava cada parte do seu corpo com uma admiração exarcebada, como se fosse a mulher mais linda do mundo. E naquele momento ela era...

Ela quer viver


Hanna estava sedenta. Depois da tempestade que exigiu sua "hibernação" para colocar ideias e sentimentos em ordem, agora mais do que nunca queria viver! "Minhas indagações sobre a vida e sobre mim mesma é algo absolutamente normal! Quem não se questiona sobre sua própria existência, é porque já esta morto!" Pensava consigo.
Queria tudo que lhe foi negado e negligenciado, e naquele dia, especificamente naquele dia, ela tinha certeza de que conseguiria. Não importava se essa sede acabaria, o que interessava é que hoje ela queria viver.
Hanna tinha o defeito de guardar rancores, as vezes pensava em reunir todos aqueles que a agrediram de alguma forma e dizer-lhes o que sentia.
Mas naquele sábado isso não importava. Quando se lembrava de cada pessoa que a fizera sofrer, tinha o sentimento de satisfação por pensar que eles continuariam no mesmo lugar, nunca sairiam de onde ela os havia encontrado. E toda essa dor, esse sofrimento que a consumiu e ainda consome, a vida se encarregaria de cobrar. Não isso não é vingança, é apenas uma lei básica e universal.
Tinha se cansado de entregar sua vida a quem não merecia, ou não tinha coragem suficiente de abrir as asas. Era isso que aprisionava Hanna, ela tinha asas mas ainda estavam encolhidas e durante muito tempo, pensou que precisaria de alguém assim como ela para voar. Hoje não, hoje ela ia voar sozinha, mesmo que a queda fosse grande, isso não a impediria. Continuaria vivendo nos extremos como sempre fez. Porque Hanna apesar de todos os defeitos e problemas, tinha vida dentro de si.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ainda existe amor para Hanna?


Naquela manhã, Hanna estava cheia de dúvidas. Tinha dormido mal, e os pensamentos parecem surgir durante à noite, quando tudo o que se escuta e sente é o silêncio.
Diferentemente das outras vezes, estes pensamentos a deixaram inquieta, não sabia mais o que era real, não sabia se valia à pena crer nas coisas que sempre acreditara e que de certa forma fizeram-na se movimentar.
Hanna era o tipo de mulher que quando acreditava em algo, investia tudo o que podia, até que se esgotasse o último fio de esperança. Toda aquela doação havia causado uma certa descrença, algo que não sabia explicar direito.
Se olhou no espelho: "eu não sou feia, me considero uma mulher inteligente. Então por que passei onze anos da minha vida acreditando que palavras seriam suficientes para sustentar um sentimento?"
Ela não entendia. Não entendia e não queria. Pensava consigo mesma que se o amor de fato existe, ele só sobrevive com o toque das peles, o cheiro, o dormir juntos, as discussões. Era no cotidiano real que tal sentimento se fortifcicava e amadurecia. Como era possível amar a ideia de alguém? Para ela isso era tão surreal quanto alucinações causadas por drogas alucinógenas.
"Nunca serei a mulher de ninguém". Era só o que conseguia pensar, o amor que outrora enchia seu coração e sua imaginação, já não existe mais. E ela queria muito estar enganada, mas não conseguia, ninguém nunca havia mudado sua vida por causa dela.
Hanna se doou tantas vezes que até parece que perdeu sua identidade. Devoção cega por quem a violentou. Não apenas fisicamente, mas com palavras duras, mensagens subentendidas que a feriram e fizeram com que perdesse a crença em um relacionamento verdadeiro e duradouro.
Tudo que queria agora era viver da melhor forma possível. Queria crescer como profissional porque isso ninguém tiraria dela.
Quanto ao resto? Transformaram-se em cacos de vidro...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Diário


Naquela noite, Hanna sentia-se mais perdida do que de costume. Era como se algo quisesse sair de dentro dela, não tinha certeza se era um grito, um palavrão, não sabia ao certo. Só sabia que se encontrasse um jeito de extravasar esse sentimento se sentiria mais aliviada.
Pegou seu diário, há muito tempo ele esteve guardado porque Hanna não conseguia escrever. Algo muito grande a impedia. Pensou em uma série de conjecturas: descrença, desesperança, incorformismo, inércia.
Tudo o que sabia é que embora fossem conjecturas, Hanna podia experimentar cada um desses sentimentos com uma intensidade incomum. Mergulhava em cada sensação e por vezes pensava que iria se afogar nos próprios devaneios.
Pegou o diário. Não tinha ideia do que escreveria. "Que sejam apenas rabiscos", pensava consigo mesma na esperança de que tais rabiscos aliviassem seu coração.
Escreveu a seguinte frase:

"Querido diário, chego à conclusão de que não pertenço a esse mundo!"
Era tudo que conseguia escrever, era o que sentia. O misto de sentimentos continuava a incomodá-la. Essa seria mais uma longa noite...

sábado, 7 de maio de 2011

Os desejos de Hanna


Hanna acordou pela manhã com uma terrível vontade de chorar. Uma vontade que não sabia de onde vinha, nem porque existia. Ela só queria chorar.
Às vezes sentia como se nada fosse real, como se a vida que estivesse vivendo fosse apenas um sonho, e se perguntava porque se sentia assim.
Talvez fosse a falta de fé no ser humano. A incapacidade de confiar, e de entender como alguém pode amar a ideia de outra pessoa. Hanna passou 11 anos ouvindo juras de amor, promessas que nunca se concretizaram, e ela queria muito mais da vida. Agora, tem a sensação de estar acontendo de novo, e se pergunta se sua concepção sobre o amor estaria equivocada.
Será que querer algo real, pele com pele, um afago nos momentos difíceis era algo que só existia em filmes e novelas? Ela acreditou por algum tempo que quando se ama alguém, mudamos nossa vida por ela. Hoje não acredita mais.
Não se permite acreditar, porque sabe que junto com a crença virá o sofrimento. Sente-se como se ninguém pudesse compreender o que ela quer de fato, o mundo que ela criou só pertence ao seu imaginário, e não crê que exista alguém com quem ela possa compartilhar sem ser julgada ou bombardeada por uma série de perguntas.
Chegou à conclusão de que é comnplexa demais, exigente demais para que alguém possa amá-la na totalidade. Isso já não importa ,ela agora sonha com uma vida profissional porque sabe que seu futuro é promissor.
Nunca será a mulher de alguém. Não consegue mais acreditar em palavras e foi só isso que recebeu durante boa parte da sua vida. Metade dela morreu, a outra quer viver intensamente e para isso seria preciso abrir de vez suas asas...
Hanna acreditou que alguém pudesse amá-la. Hoje, acredita somente no amor que sente por si mesma. Finalmente compreendeu que ela pertence ao mundo todo e não a um lugar somente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A história de Hanna


Hanna era uma jovem de 22 anos quando saiu de casa para cursar a faculdade. Sempre foi uma menina de origem simples, criada sob fortes padrões convencionais, o que nunca a impediu de ter um mundo interior rico e repleto de desejos que ela jamais ousaria contar a ninguém. Se sentia sozinha, desde muito jovem, sentia-se como se não pertencesse àquele lugar, uma sensação de querer viver a todo custo, mas ao mesmo tempo o medo a impedia. Quando tinha 3 anos foi molestada pela prima. É claro que só conseguiu entender o que havia acontecido anos mais tarde durante sua terapia. Hanna começou a fazer terapia aos 19 anos sem saber porque fazia, mas ela não estava muito interessada, o que importava é que ela se sentia bem conversando com uma estranha, aliás, foi esta estranha quem a encorajou a fazer o vestibular. Talvez fosse a única pessoa que acreditava de fato no seu potencial. E assim o fez. E conseguiu passar logo na primeira tentativa! Foi embora deixando sua família, e se mudou para uma cidade maior, morando em uma república. Hanna estava fascinada com a cidade e a faculdade, mas sobretudo com o sentimento de indepêndencia, uma sensação de liberdade que nunca tinha experimentado. Seu desejo por uma vida diferente foi aumentando e não tardou para que Hanna optasse por morar sozinha. E foi o que fez. Ah que felicidade! Total liberdade e privacidade, podia sair e voltar o dia que quisesse sem ter que dar explicações a ninguém. Nunca pensou em viver de tal maneira. Tudo era um sonho e ela não queria mais acordar! Só queria viver! Frequentava todas as festas que podia e não demorou para começar a beber, afinal, ela queria se enturmar, e se todos faziam, por que ela não poderia? Foram vários os porres, as festas, as bebidas que nunca pensou em experimentar. No entanto, com o tempo, tudo foi perdendo o sentido e Hanna começou a sentir uma solidão tão grande que era como se estivesse abandonada no mundo. Apesar de todas essas loucuras e da vida boêmia, Hanna ainda era uma menina que sonhava em encontrar seu princípe, e todas essas fugas, no fundo tinham o intuito de conhecer o amor, de saber como era se sentir amada e desejada. Essa busca incansável, fez com que ela conhecesse um homem totalmente incomum, músico, boêmio, perdido em seus devaneios, volúvel, fraco. Mas para ela não importava, ela achava que o amor podia transformar tudo e perdoar também. Mal sabia ela que as pessoas só mudam quando sentem verdadeira necessidade... Pois bem, este homem mostrou um lado obscuro da vida para Hanna. Era uma relação regada à bebidas, drogas e sexo. Ela não se importava. Quando fazia amor com "seu homem" a única coisa que pensava era: "não existe nada melhor" Se existe um adjetivo que possa clasisificar essa relação, seria: inconstância. O princípe que ela pensou ter encontrado e que a resgartaria de sua solidão, não a amava. O que ele que ele queria de fato era um teto para dormir, e alguém que lhe oferecesse sexo bom. Hanna insistia porque o amava e acreditava que poderia mudá-lo, fazer com que ele fosse gentil, romântico, que mudasse suas roupas e tivesse enfim o seu amor. Certa noite, seu namorado levou alguns conhecidos e bebidas para seu apartamento. Hanna pensou ser mais uma farra entre amigos. Oferecelharam bebida: vodka, cerveja, absinto, fumou maconha, e de repente foi tomada por uma espécie de transe. Como se nada fosse real, e seu copo já não fizesse mais parte dela. O namorado a levou para o quarto e começou a despí-la. A porta estava aberta e ela enxergava com uma visão turva que os outros estavam na sala, mas apesar do entorpecimento, ela sentia que estava sendo observada. Começaram a fazer sexo. Hanna estava meio morta e as vezes pronunciava "pare"! Mas não tinha forças, não conseguia. apesar da penumbra, conseguia ver os "amigos" fascinados com a cena. No dia seguinte, ela conseguiu bloquear o que tinha acontecido, e só conseguia pensar naquele mal estar, toda aquela ressaca, mas isso não a impediu de notar a indiferença do amado. A casa estava vazia, não sabia direito o que tinha acontecido, e não entendia tamanha indiferença. Insistindo por algum esclarecimento, Hanna foi jogada violentamente no chão com a seguinte frase: "me deixe em paz" Os dias se passaram, e ela parecia inerte, mas sempre esperando alguma notícia. Nada. Nenhum telefonema, mensagem, ou algo que pudesse explicar o que havia acontecido. Depois de muito pensar, chegou à conclusão de que havia sido estuprada. Embebedada e estuprada pelo homem que julgava amar. Naquele momento nada mais importava, se entregava nos braços do primeiro que encontrava, e foi em um desses encontros, que ela conheceu outro homem. Uma pessoa que a faria esquecer temporariamente tudo o que viveu. Foram meses maravilhosos. Presentes, idas ao cabelereiro, e o melhor, redescobriu o prazer com alguém que a amava. Com o tempo esse amor tornou-se possessão. Ciúme completamente sem propósito porque Hanna novamente vivia por um relacionamento. Até que um dia, em meio a uma discussão foi esbofeteada. E todo aquele sentimento de inércia veio à tona... Deste dia em diante só abria a boca para concordar. Não queria contrariá-lo, nem mesmo no sexo. Em uma dessas relações seu namorado a pegou por trás, ela nunca tinha sentindo tanta dor! E só conseguia pedir que em nome de Deus parasse com aquilo! Mas ele não parava, dizia que ela o pertencia. Pronto! Sua vida desmoronou. Daí em diante foi um mergulho profundo na depressão, tentativas vãs de suicídio. Seus sonhos tinham sido desmoronados violentamente. Não teve outra alternativa a não ser voltar para sua cidade, se culpando, e sem motivos para continuar... Foram anos de terapia, medicamentos, mutilações. Até que ela finalmente conseguiu dar a volta por cima. Mas ainda se pergunta se vale à pena sonhar...