terça-feira, 17 de maio de 2011

A carta


Naquela manhã, Hanna recebe uma carta estranha. Não tinha remetente, nem endereço. " Que estranho, nunca recebo cartas, só e-mails!" - disse a si mesma, e então abre violentamente o envelope e começa a ler. A carta tinha os seguintes dizeres:

"Cara Srta. Hanna: Escrevo esta cara para dizer-lhe o que penso ao seu respeito. Não consigo definir se a srta. é ainda uma garotinha ou uma mulher. E a razão é simples: a srta. age por vezes como uma menina assustada e por vezes como mulher. Decida-se! Agindo assim, ninguém haverá de lhe querer minha cara, não há ser humano no mundo que suporte essa inconstância. Um dia a senhorita esta bem, no outro já não sabe mais o quer. Por que não pode agir como as outras mulheres e aceitar suas condições? Desculpe se pareço rude, mas a senhorita beira o ridículo com todas essas indagações existenciais. Aposto que nunca leu sequer um livro de filosofia! Ninguém aguenta mais seus discursos, você tornou-se tão repetitiva, grita as mesmas coisas e não percebe que ninguém a escuta! Vai gritar até quando? Até perder a voz? Essa sua ideia infantil sobre relações entre homem e mulher não existe, é uma fantasia que você criou para que sua infelicidade não domine completamente sua vida. Aceite as coisas como são. Não tente mudá-las ou sofrerá mais do que tem sofrido. É só um conselho, é que ninguém aguenta mais sua ladainha. Atenciosamente: Um amigo"

Aquela carta foi como se Hanna tivesse levado uma bofetada. Quem era afinal esse "amigo"? Por alguns minutos, Hanna ficou se perguntando se aquele desconhecido não teria razão. Hanna esperou que todas aquelas palavras fossem digeridas e de repente, foi tomada por uma raiva descomunal e embora soubesse que não poderia dizer tudo que queria, pois não sabia quem era o autor da carta, correu para o computador e começou a digitar:

"Caro amigo: Gostaria de saber quem o senhor ou senhora pensa que é para julgar-me e questionar meus sentimentos pensamentos. Acaso é Deus? Acaso tem recebido reclamações por parte de outras pessoas sobre meus escritos? É algum justiceiro? Não! Penso que deve ser um homem que ainda diz "uga uga", e que ainda acredita que mulheres não devem pensar sobre absolutamente nada! Pois saiba que se o preço por pensar o que penso for a solidão, então fico sozinha! Prefiro isto que me conformar com uma vida que não quero! E lhe digo mais: se toda essa incoformação me custar a vida, pois aconselho ao amigo que encomende logo meu caixão! Respondendo sua pergunta sobre filosofia, não eu não leio os filósofos que certamente o senhor deve estar acostumado a ler e que o faz pensar que é o detentor do saber! Pois que fique muito claro meu amigo, que não é preciso conhecer filosofia para levantar questionamentos. Ao nos perguntarmos "quem sou eu?", já estamos filosofando! Se não se interessa sobre o que escrevo, é simples: não leia mais! Mas se acaso me mandar outra carta, por favor tenha a descência de se identificar, pois seu anonimato já denuncia o quão covarde é! Posso estar equivocada com meus pensamentos, mas de ser covarde o senhor não poderá me acusar, já que termino essa postagem assinando meu nome com letras maiúsculas! Atenciosamente: HANNA
P.S: Continuarei sendo ridícula se o senhor assim me vê. Creio que o direito de escolha me pertence."

Hanna posta em seu blog tudo o que havia escrito, não queria saber se seria lido ou não. O fato é que escrever trouxera-lhe alívio e a certeza de que continuaria a ser como era. Não abaixaria sua cabeça, e jamais agiria da forma como os outros achavam correto.
"Tenho coragem para assumir minhas fraquezas, minha força, mas sobretudo tenho coragem para assumir quem sou." - dizia e escrevia repetidamente não na tentativa de se convencer de algo, mas porque era essa a única verdade que sabia sobre si mesma.

Um comentário:

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Hanna mostra mais uma vez sua força! Ela se vê em uma situação extrema, uma carta anônima que tenta jogar tudo aquilo que ela acredita ao chão, que é uma tentativa infeliz de tentar subjugar seu espírito. Que bom Hanna que respondeste a altura a essa pessoa infame! Que bom que mostraste realmente quem és! Essa Mulher/Menina, essa caixinha mágica de surpresas, e dito-te mais, essa inconstância não afasta as pessoas, mesmo porque isso só mostra que você tem desejo de sobra de vida, de viver intensamente! Essa é Hanna! Parabéns Lidiana por mais um belíssimo capítulo dessa belíssima história!!!