segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Andando em Círculos


Hanna passou rapidamente do período de apatia para a agitação. As sessões com a psicóloga e psiquiatra fizeram-na encontrar uma parte de si, e agora não sabia o que fazer com essa parte. Sentia-se perdida em meio as lembranças, incompreendida por todos e cansada de ouvir que "você precisa de um emprego", ou "você precisa de fé." Hanna sabia que estava doente, sofria com dores de cabeça, os efeitos dos remédios e toda aquela confusão mental.
Voltou a beber e fumar. Mas não como antes, agora era o vício que a acompanhava, foi o meio que encontrou de esquecer quem era por algumas horas. E foi em uma noite de quarta-feira que Lucy apareceu em seu apartamento.
_Quem é e o que quer?_ pergunta Hanna.
_Sou eu Lucy! Abra mulher!
Hanna já estava bêbada, e recebeu Lucy com uma garrafa na mão e com o outro braço deu um abraço na amiga:
_Ah! Quem é vivo sempre aparece! Saudades sua doida!
Lucy olha espantada para Hanna. "Esta degradante" - pensou consigo enquanto olhava para aquela mulher com uma garrafa e um cigarro em uma das mãos, descalça, com um pijama sujo, cabelo desgrenhado e o rosto pálido, borrado por uma maquiagem preta.
_Bebendo a essa hora? Ainda não são nem 19:00! Vim te visitar e te chamar pra ir a uma festa que vai ter aqui perto, mas pelo seu estado, acho que você não vai conseguir.
_Que estado? Quem você pensa que é para dizer se consigo ou não? Logo você! Sempre quis que eu me soltasse, que vivesse, que fosse louca como você. Depois que saí do seu apartamento você nunca veio me visitar, me deixou sozinha aqui e eu fiquei.
_Hanna você também nunca foi me ver! Tudo bem, eu assumo que queria que você se libertasse um pouco, mas olhe bem!
Nesse momento Hanna é arrastada por Lucy que a leva até o espelho e obriga a amiga a observar o próprio reflexo.
_Olhe Hanna! Você esta fedendo! Parece uma prostituta barata de beira de esquina! Esta esquálida, se eu soubesse que você voltaria a viver assim, jamais teria deixado você sair! Pelo menos lá eu cuidaria de você, você disse que estava cansada daquela vida desregrada, mas Hanna sinto muito te dizer, você caminha em círculos.
Hanna abaixou a cabeça e começou a chorar. Ela concordava com cada palavra dita por Lucy, e sabia que estava presa nessa repetição que ela mesma criou.
_Venha, não chore. Vou te dar um banho, te arrumar e nós vamos para a festa. Você precisa se distrair, fica aqui presa nesse apartamento, se quer beber, ao menos beba acompanhada.
Lucy cuidou de Hanna tal qual uma criança. Deu banho, penteou, preparou um lanche e a vestiu. Todo esse cuidado fez com que Hanna se sentisse melhor e até conseguiu se maquiar. Lucy estava vestida com um vestido preto que deixava suas pernas à mostra. Hanna vestiu apenas uma regata, colocou algumas correntes e uma bermuda com rasgos que ela mesma tinha feito.
_Você tá parecendo a Avril Lavigne! _ Lucy disse em tom de brincadeira.
_Ah vá se foder! Não tô afim de megaproduções hoje, quem sabe no final de semana?
_Ok! Então, vamos!
Chegaram na festa e o local estava cheio de gente. As luzes ofuscavam a visão de Hanna, mas ela podia sentir que todos a olhavam e se incomodou com isso. Imediatamente acendeu um cigarro e buscou uma garrafa de cerveja, não demorou muito para que os olhares virassem piada para ela e para Lucy, e as duas começaram a dançar.
De repente, Hanna foi surpreendida com uma mão no seu ombro. Se virou e não conteve o espanto. Era seu ex-namorado! O homem que a deixou sozinha, que zombou de seu corpo e que a despiu na frente dos amigos por pura diversão!
_Hanna! Quanto tempo! Nossa como você tá diferente! Tá magra, com um visual mais "rock"! Gostei. Será que se a gente transasse agora seria melhor? Tô zoando, ok?
_Eu sei. E isso é o que você faz de melhor, não é? Zoar! Mas respondo sua pergunta: se transássemos agora não seria melhor, sabe por que? Porque certamente eu vomitaria na sua cara, seu infeliz de merda! Por que não procura um caralho pra chupar, hein? Olha, que eu acho que você iria gostar, seu puto! Achou que eu tinha esquecido do que você me fez, filho da mãe!
A festa já tinha parado e todos viam a cena estarrecidos.
_Você é um porco! Eu é que não sei como pude aguentar você em cima de mim por tanto tempo. Volta para o chiqueiro porque lá é seu lugar, e aproveita pra comer bosta porque é só o que você merece.
Hanna violentamente joga o resto de cerveja na cara dele. Ele fica apático, não consegue expressar nenhuma reação, apenas olha para os lados e sai completamente constrangido.
_Vamo lá gente, por que pararam a festa? Nunca viram um animal sendo tratado como tal?
Quando disse isso, Hanna continuou dançando e bebendo sentindo que tinha tirado um peso dentro de si. Era como se aquele fosse um acerto de contas, mas as vezes parava e se perguntava: "por que ainda não me sinto bem?"