domingo, 19 de outubro de 2008

Amor e Ódio

Poucos crimes que acontecem no Brasil conseguem prender minha atenção.Eu sempre me senti incomodada com notícias de violência, e confesso que sempre preferi viver meio à margem. Mas, o crime ocorrido durante esta semana com a jovem Eloá e seu ex - namorado Lindemberg, não só chamou minha atenção como também me fez refletir sobre algumas questões.
Eu comecei a acompanhar o caso na terça -feira. Com o triste desfecho, milhares de coisas vieram à minha cabeça. Dentre elas, a mais comum: "como pode um rapaz aparentemente "normal" agir desta forma?". Essa é uma questão que somente os especialistas da área da psicologia poderão explicar.
O que me intrigou de fato é a frequência com que crimes passionais têm acontecido. E isso me levou a uma outra questão, quase todas as mulheres com quem converso já se sentiram intimidadas de alguma forma por um namorado ou ex-namorado. Não que isto não aconteça com os homens, só pensei nisto porque não tive a oportunidade de conversar com homens sobre o assunto.
As minhas perguntas são as seguintes: esses casos de ciúme doentio têm aumentado? E se têm aumentado, por quê?
O que está acontecendo? Quando penso no caso de Eloá, e até mesmo de amigas que já tiveram um namorado possessivo e ciumento, milhões de dúvidas com relação ao amor invadem meus pensamentos. Como é possível que momentos de felicidade, sejam substituídos em questão de segundos, por ódio, raiva, mágoa. É como se todos momentos bons não valessem nada, já que são descartados de forma tão vil.
Me parece que o que prejudica uma relação é justamente a noção de posse. Quem tem essa noção, é incapaz de amar. Não sabe que amar significa querer o bem estar do ser amado, mesmo que isso signifique a distância, mesmo que ele esteja longe.
As relações deveriam acabar de uma outra forma. As pessoas deveriam deixar de acreditar em contos de fadas, em "amor eterno". Deveriam pensar que porque acabou, não quer dizer que não tenha tido amor, um dos nossos maiores poetas Vinícius de Moraes já dizia:
"Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
."

6 comentários:

Dona Irene disse...

Acredito que um dos fatores que influenciam a quantidade deste tipo de crime no Brasil é a sociedade machista que ainda temos. Acho válido lembrar que até pouco tempo atrás ainda tínhamos instituída a 'defesa da honra' e muitos homens se valeram desse princípio para cometer crimes contra suas parceiras.
O caso da adolescente Eloá revelou o quanto ainda temos uma sociedade patriarcal; fato melhor explicitado nas palavras do comandante-chefe da operação de resgate que declarou que não atirou em Limdeberg por se tratar de um 'jovem em crise amorosa'.
Ora, 'Crise amorosa' não pode ser eufemismo que disfarça e oculta o machismo arraigado na nossa sociedade.

Hanna disse...

Irene realmente esse é um dos fatores que influenciam tantos homens a tirarem a vida das mulheres que dizem "amar". Temos que reconhecer que vivemos em uma sociedade machista com alguns valores arcaicos, e pessoas com mentes doentias talvez não consigam assimilar uma série de coisas, como por exemplo a rejeição.
Você disse algo muito importante e que quase não foi mencionado pelos especialistas de plantão. A questão cultural.
Obrigada pelo comentário!

Paulo C. Júnior disse...

Concordo plenamente que o meio em que vivemos é machista, apesar da grande evolução que ocorre a esse respeito. Essa é uma marca que ficará ainda muito tempo em nossa história e nas atitudes humanas. Infelizmente essa falsa depedência feminina do homem não só as intimida perante eles, em um relacionamento amoroso, mas também as fazem se sentirem seguras ao lado deles, fato este que decorre da ausência ou trauma da figura paterna em suas vidas.

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Bem, não poderia começar meu comentário sem dar razão as duas senhoritas que teceram de forma quase brilhante seus comentários acerca do tema. Concordo com as duas e acredito que o problema ainda é o machismo. Por mais que a mulher consiga sua independência (financeira, intelectual e sentimental), a sociedade não permite que isso aconteça, pois ainda vemos o machismo imperar e não dá pra entender como esses dois sentimentos andam tão próximos que um (o amor) leva ao outro num passe de mágica. Acredito ainda, que como disse Lidiana em seu bem elaborado texto, essa noção de posse, essa falsa noção de posse, que deriva do machismo, faz com que a proximidade desses dois sentimentos aumente ainda mais, visto que se uma pessoa tem a outra como "sua propriedade", no menor sinal de recusa, seja de ir numa festa ou sair para um bar, surge daí um sentimento de "ela/ele não pode fazer isso, ela/ele é meu..." e assim, pouco a pouco começam a aproximarem-se amor e ódio. Parabéns primeiramente a Lidiana pelo texto e parabéns Irene pelo comentário...

william disse...

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que se expresse sua opinião...
Difícil é expressar por gestos e atitudes, o que realmente queremos dizer.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias...
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus próprios erros.

Fácil é fazer companhia a alguém, dizer o que ela deseja ouvir...
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer a verdade quando for preciso.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre a
mesma...
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado...
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece.
Fácil é viver sem ter que se preocupar com o amanhã...
Difícil é questionar e tentar melhorar suas atitudes impulsivas e as vezes impetuosas, a cada dia que passa.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar...
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar...
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.

Reverência ao destino (Carlos Drummond de Andrade)