sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Libertação

Era só confusão. Era mais do que poderia aguentar. O sofrimento de Hanna agora consumia também seu corpo, e em sua mente já fizera tudo para ser feito. Não havia melhora, implorou para que a psiquiatra a internasse, mas foi em vão e os pais não sabiam o que estava acontecendo, tinha medo de contar.
Era uma manhã de quinta-feira e naquele dia Hanna não foi à aula. Preferiu andar pelas ruas com seus devaneios, no entanto, quando colocou os pés para fora do prédio, sua visão ficou turva, o sol a incomodava e nem mesmo todo aquele movimento a fazia se sentir melhor. Estava deprimida, o fracasso tomou conta da sua existência e não conseguia mais ver razão para nada, ela já não existia.
Não tem ideia de quanto tempo andou, mas de repente se deparou com algumas flores que lhe chamaram a atenção. Não tinha muito dinheiro, e mesmo assim, pediu meia dúzia de pequenas flores coloridas e delicadas.
Hanna sentiu o perfume e pensou consigo que talvez seu problema estivesse aí: sempre procurando prazeres difíceis e por vezes dolorosos, e foi então que chegou a conclusão que não precisaria lutar tanto para estar bem, já que um singelo ramo de flores tornaram seu coração mais calmo.
Ficou observando o ramalhete enquanto caminhava, e de repente, foi atingida por um carro que a fez bater a cabeça na vidraça de uma loja. Hanna caiu e só conseguiu ver as pequenas flores no alto já esmigalhadas, o que para ela era um verdadeiro jardim. Um jardim no céu! Aos poucos, as flores foram caindo lentamente sobre seu corpo, e as pessoas foram se aproximando.
Pediram ajuda, mas já era tarde. Hanna agora era um corpo estendido no chão coberto por flores de todas as cores. Ninguém sabia quem era aquela mulher, de onde vinha e porque na hora de sua morte, encontrava-se tão bonita.
Hanna nunca esteve tão linda.

Agradecimentos da autora: obrigada a todos que acompanharam o pensamentos insanos e a saga de Hanna. Sei que a história esta meio desconectada, mas assim foi sua vida, assim é a vida de milhares de meninas que saem de suas casas para estudar ou trabalhar.
Aos leitores o meu mais sincero respeito e gratidão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Andando em Círculos


Hanna passou rapidamente do período de apatia para a agitação. As sessões com a psicóloga e psiquiatra fizeram-na encontrar uma parte de si, e agora não sabia o que fazer com essa parte. Sentia-se perdida em meio as lembranças, incompreendida por todos e cansada de ouvir que "você precisa de um emprego", ou "você precisa de fé." Hanna sabia que estava doente, sofria com dores de cabeça, os efeitos dos remédios e toda aquela confusão mental.
Voltou a beber e fumar. Mas não como antes, agora era o vício que a acompanhava, foi o meio que encontrou de esquecer quem era por algumas horas. E foi em uma noite de quarta-feira que Lucy apareceu em seu apartamento.
_Quem é e o que quer?_ pergunta Hanna.
_Sou eu Lucy! Abra mulher!
Hanna já estava bêbada, e recebeu Lucy com uma garrafa na mão e com o outro braço deu um abraço na amiga:
_Ah! Quem é vivo sempre aparece! Saudades sua doida!
Lucy olha espantada para Hanna. "Esta degradante" - pensou consigo enquanto olhava para aquela mulher com uma garrafa e um cigarro em uma das mãos, descalça, com um pijama sujo, cabelo desgrenhado e o rosto pálido, borrado por uma maquiagem preta.
_Bebendo a essa hora? Ainda não são nem 19:00! Vim te visitar e te chamar pra ir a uma festa que vai ter aqui perto, mas pelo seu estado, acho que você não vai conseguir.
_Que estado? Quem você pensa que é para dizer se consigo ou não? Logo você! Sempre quis que eu me soltasse, que vivesse, que fosse louca como você. Depois que saí do seu apartamento você nunca veio me visitar, me deixou sozinha aqui e eu fiquei.
_Hanna você também nunca foi me ver! Tudo bem, eu assumo que queria que você se libertasse um pouco, mas olhe bem!
Nesse momento Hanna é arrastada por Lucy que a leva até o espelho e obriga a amiga a observar o próprio reflexo.
_Olhe Hanna! Você esta fedendo! Parece uma prostituta barata de beira de esquina! Esta esquálida, se eu soubesse que você voltaria a viver assim, jamais teria deixado você sair! Pelo menos lá eu cuidaria de você, você disse que estava cansada daquela vida desregrada, mas Hanna sinto muito te dizer, você caminha em círculos.
Hanna abaixou a cabeça e começou a chorar. Ela concordava com cada palavra dita por Lucy, e sabia que estava presa nessa repetição que ela mesma criou.
_Venha, não chore. Vou te dar um banho, te arrumar e nós vamos para a festa. Você precisa se distrair, fica aqui presa nesse apartamento, se quer beber, ao menos beba acompanhada.
Lucy cuidou de Hanna tal qual uma criança. Deu banho, penteou, preparou um lanche e a vestiu. Todo esse cuidado fez com que Hanna se sentisse melhor e até conseguiu se maquiar. Lucy estava vestida com um vestido preto que deixava suas pernas à mostra. Hanna vestiu apenas uma regata, colocou algumas correntes e uma bermuda com rasgos que ela mesma tinha feito.
_Você tá parecendo a Avril Lavigne! _ Lucy disse em tom de brincadeira.
_Ah vá se foder! Não tô afim de megaproduções hoje, quem sabe no final de semana?
_Ok! Então, vamos!
Chegaram na festa e o local estava cheio de gente. As luzes ofuscavam a visão de Hanna, mas ela podia sentir que todos a olhavam e se incomodou com isso. Imediatamente acendeu um cigarro e buscou uma garrafa de cerveja, não demorou muito para que os olhares virassem piada para ela e para Lucy, e as duas começaram a dançar.
De repente, Hanna foi surpreendida com uma mão no seu ombro. Se virou e não conteve o espanto. Era seu ex-namorado! O homem que a deixou sozinha, que zombou de seu corpo e que a despiu na frente dos amigos por pura diversão!
_Hanna! Quanto tempo! Nossa como você tá diferente! Tá magra, com um visual mais "rock"! Gostei. Será que se a gente transasse agora seria melhor? Tô zoando, ok?
_Eu sei. E isso é o que você faz de melhor, não é? Zoar! Mas respondo sua pergunta: se transássemos agora não seria melhor, sabe por que? Porque certamente eu vomitaria na sua cara, seu infeliz de merda! Por que não procura um caralho pra chupar, hein? Olha, que eu acho que você iria gostar, seu puto! Achou que eu tinha esquecido do que você me fez, filho da mãe!
A festa já tinha parado e todos viam a cena estarrecidos.
_Você é um porco! Eu é que não sei como pude aguentar você em cima de mim por tanto tempo. Volta para o chiqueiro porque lá é seu lugar, e aproveita pra comer bosta porque é só o que você merece.
Hanna violentamente joga o resto de cerveja na cara dele. Ele fica apático, não consegue expressar nenhuma reação, apenas olha para os lados e sai completamente constrangido.
_Vamo lá gente, por que pararam a festa? Nunca viram um animal sendo tratado como tal?
Quando disse isso, Hanna continuou dançando e bebendo sentindo que tinha tirado um peso dentro de si. Era como se aquele fosse um acerto de contas, mas as vezes parava e se perguntava: "por que ainda não me sinto bem?"

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da dúvida


Hanna sentia-se vazia, apática. Estava cansada de palavras, e hoje era como se uma arma tivesse atravessado seu ventre. Doía o peito, o coração. E tudo que ela quer é desabafar sua tristeza:

"Estou cansada. Cansada de escutar palavras vãs, promessas ao vento e que têm o único intuito de me ridicularizar, me usar. Estou farta! Farta de me fazerem de palhaça, não permitirei isso mais! Sou uma mulher que não tem medo de dizer o que pensa e se isso assusta o problema é de vocês que não sabem lidar comigo. E me acusam de que? Me culpam de que?
Meu coração é meu e de mais ninguém. Não o entregarei assim tão facilmente, nunca mais!
As palavras que escutei só me jogaram nesse buraco que me encontro, por isso, pegue-as, não preciso de mentiras! Nunca precisarei!
Meu coração e minha alma se fecharam. Não há mais nada para acreditar, estou só comigo mesma e com meus pensamentos que para muitos podem ser insanos, mas esta sou eu.
Se quer algo de mim, então faça por merecer, venha e mostre atitudes, não palavras!"

Hanna se sentia sozinha, mas era um tipo de solidão diferente. Ela queria estar só porque de repente começou a acreditar que assim estaria protegida.
Estava introspectiva, na faculdade perceberam, mas ela não podia evitar, era o que tinha dentro de si. Fugia de qualquer tipo de contato porque já conseguia prever o desfecho: seria rejeitada como foi tantas vezes, e antes que isso acontecesse, Hanna dizia não e sufocava seus desejos com as lembranças do passado que sofrera.
Seus sonhos foram ofuscados por um estado permanente de dúvida. Hanna estava morrendo...

sábado, 8 de outubro de 2011

Ela não passara de uma criança


Era sábado e Hanna tinha acordado muito bem disposta! Levantou mais cedo, foi até o supermercado e depois foi dar uma volta no centro da cidade. Aquilo lhe fazia bem, andar, ver as pessoas, olhar as vitrines e depois voltar para casa cantoralando algumas músicas com as mãos cheias de sacolas.
Chegando em casa, ela guarda suas compras e diz para si mesma; "hoje não vou fazer nada. Vou ficar tranquila, e talvez mais tarde eu ligue para a Gabriela."
Gabriela era sua melhor amiga. Estava ajudando Hanna a se recuperar na faculdade, e as vezes ela ia para sua casa quando sentia falta dos pais. Gostava daquele clima familiar, a comida de mãe, o carinho que todos tinham com ela. Nesses momentos, Hanna se sentia em casa totalmente protegida por seus pais e era como se nada de mal pudesse acontecer.
Seus planos já estavam traçados para aquele dia: iria almoçar, descansar, e depois ligar para Gabriela. Talvez ligasse para Lucy, afinal, não tinha tido mais notícias desde que saiu de seu apartamento. Acreditava até que Lucy estava magoada com sua decisão, mas Hanna não podia fazer nada, sentia-se cansada daquela vida desregrada. "Bem, se ela esta chateada comigo, não posso fazer nada, fiz o que achei que fosse o melhor para mim". - Era o que pensava.
Hanna preparou um almoço simples e rápido, lavou a louça e deitou-se em sua cama. Quando estava quase adormecendo, foi surpreendia com o barulho do celular, procurou o aparelho ainda sonolenta até encontrá-lo. Viu bem a chamada e estava escrito: "Ricardo". Se surpreendeu! Ricardo foi um dos primeiros homens que ela conheceu naquela cidade, e já fazia muito tempo que não se falavam. Atendeu com a voz lânguida:
_Alo? Ricardo! Tudo bem?
_Oi Hanna! Estou atrapalhando?
_Não, pode falar.
_Tem muito tempo que não nos falamos, não é?
_Dois anos para ser mais exata. Depois você começou a namorar.
_Pois é. Nossa que saudade daquele tempo! Eu gostava de você, sabia?
_Gostava? Então por que não namorou comigo?
_Ah eu era muito bobo Hanna.
_Sei. Mas você ligou pra que mesmo? Tá precisando de alguma coisa?
_Liguei pra gente conversar, pensei em te chamar pra sair hoje.
Hanna ficou emocionada. Já fazia muito tempo que alguém não a convidava para sair, e ficou empolgada com a ideia. Sem titubear perguntou:
_E onde você quer me levar?
_Bem, terminei meu namoro há pouco tempo, pensei que poderíamos ir para um lugar mais reservado, entende?
_Sim, claro! Conheço uns barzinhos tranquilos, se você quiser podemos ir em algum.
_Você ficaria brava se eu te convidasse pra ir a um motel?
Ela sentiu seu coração ser invadido por uma raiva descomunal, as mãos ficaram trêmulas, o vômito ficou preso na garganta. Apenas se limitou em dizer:
_Ficaria sim.
_Mas por que? Era tão bom quando a gente se encontrava, você gostava.
_Mas agora eu não gosto. Se quer conversar comigo, tudo bem, mas não vou para um motel com você.
_A gente não precisa fazer nada Hanna, só conversar.
_Quer mesmo que eu acredite nisso? Que você vai me levar em um motel e não vai tentar nada? Olha, posso ser destrambelhada, mas burra eu não sou!
_Somos maduros não somos? Somos responsáveis pelo que fazemos.
_Eu não sei como alguns de vocês conseguem ser tão nojentos. Vá se foder!
E Hanna desliga o telefone. Novamente se sentiu vulnerável, e era como se tivessem tirado seu sossego, sua paz. Ela se agachou no chão e começou a chorar copiosamente, vários pensamentos depreciativos passavam na sua cabeça, um deles é que ela merecia aquele tratamento e agora não adiantava acreditar e querer uma vida diferente. Uma vida com flores, passeios em parques, risos, olhos nos olhos, Hanna se sentia indigna de ter tudo isso.
Com dificuldade ela se levanta, vai até o computador e escreve:
"Quis brincar de ser mulher, mas no fundo sou uma menina assustada. E agora só queria o colo da minha mãe me ninando, o abraço do meu pai, me sinto desprotegida. Por que fazem isso? Por que? Não sei lidar com essas situações, por isso sou uma criança que sonha com o príncipe encantado! Boba sentimentalóide!"
E continuava chorando. Tomou alguns calmantes e adormeceu pensando nessa estranha contradição que formava sua personalidade: de um lado, uma mulher sem medo de dizer, fazer e escrever o que pensa, e do outro, uma menina que só queria um afago. Hanna tentou afastar essa criança, mas vez ou outra ela ressurgia pedindo, implorando para que seus sonhos, a pureza dos seus sentimentos não fossem mortos, e que esquecesse o salto alto, a maquiagem e fosse simplesmente: Hanna.

domingo, 2 de outubro de 2011

Da luxúria ao desejo de amor sincero


Hanna era uma mulher dividida. Haviam duas: uma era formada pelos instintos mais primitivos e que estava se fazendo presença constante. Desejos quase incontroláveis faziam-na recorrer à sua válvula de escape: a escrita. Textos eróticos aplacavam momentaneamente a chama que ardia dentro de seu peito. Ela lia e relia os próprios contos e queria ser as personagens, queria vivenciar tudo aquilo: o sexo, a lascívia, devassidão.
Por outro lado, existia outra Hanna. Calma como um piano, que queria apenas sentir o vento nos cabelos, talvez ir para uma praia e ficar ali sentada na areia apreciando o mar. Esta Hanna sentia falta de amor, algo que ela ainda não tinha conhecido, e na sua imaginação tudo parecia muito singelo: mãos dadas, passeios nos parques, flores nos cabelos e o sexo como ato sagrado, não profano, e sim o momento da consolidação de um sentimento puro e simples.
"Minha doença é falta de amor. Nunca me senti amada, por isso acho que não mereço nada." Foi essa a frase que escreveu no seu computador, e esta tinha sido a conclusão que tinha chegado depois de tanto se debater consigo mesma.
Andava nas ruas e olhava os casais. Se perguntava o tempo todo "por que não comigo? Será que sou tão monstruosa assim?". Dentro do seu pequeno universo, Hanna criava teorias sobre essas pequenas rejeições:
"As pessoas talvez não gostem da espontaneidade. Isso deve assustar, mas eu não me considero tão assustadora assim, muito pelo contrário. Sou bastante tímida, apenas quando estou envolvida com alguém, eu falo e faço! Que mal há nisso? Não consigo entender. É assim que as coisas funcionam então? As pessoas camuflam seus sentimentos, suas vontades tudo isso em nome de um orgulho? E ainda conheci algumas que se diziam francas! Isso para mim é usar máscaras, e será que terei que colocar uma também para que as coisas fluam? Me chamam de estranha, afoita, desesperada, e eu pensava que estava apenas sendo sincera com os outros mas sobretudo comigo mesma..."
Hanna pensava, sentia, amava, queria com uma intensidade tão grande, que as vezes ela mesma se perdia diante de sentimentos que para ela eram muito fortes. Mas, ela não sabia ser de outro jeito. E hoje ela desejava profundamente sentir o amor, aquele desmedido, incontido, desregrado! O amor que ela via nos filmes, e que dentro de si, sabia que existia, tinha certeza!
Hoje, Hanna era apenas uma menina romântica.

domingo, 18 de setembro de 2011

5 minutos

"Não se pode medir a crueldade das pessoas, nem mesmo a falta de inteligência delas". Hanna escreveu essa frase no seu computador, mas não postou no blog. Aliás, estava com dúvidas se deixava o post Indignação sobre o sexo oral ou deletava-o. Achou melhor deixar, afinal, já era do conhecimento de todos que ela havia criado um blog para falar de sexo, mas aquele era seu desabafo sobre algo que aconteceu e que trouxeram-lhe um misto de sentimentos: revolta, dor, ódio, autoaversão.
Falar e escrever contos, fantasias, era sinal de que ela estaria sempre disposta o tempo todo? Talvez para mentes limitadas sim, essa era a lógica. Mas não para Hanna, porque antes de qualquer diagnóstico, ela era mulher, e tinha carências, força, como qualquer outra. Queria estar com alguém que a fizesse se sentir bonita, que a carregasse no colo, que lhe desse o beijo que ela viu no filme...
Hanna não perdeu o romantismo, e hoje ele estava ainda mais latente. Ah! Como precisava de um afago! Um simples afago! Mas tinha ódio dentro de si, e era esse paradoxo que tornava Hanna tão incompreendida.
Pensou por quanto tempo teria ficado com o membro daquele homem na boca. 2 minutos? 3? Achava que tinha sido 5 minutos. 5 minutos foi o suficiente para que Hanna voltasse a se depreciar, e se automutilar. Foi só isso, 5 minutos.
Sua decisão estava tomada. Deixaria o post para mostrar sua indignação, mas sobretudo para que talvez alguém lesse e refletisse.
"Será que as mulheres para serem valorizadas terão de se anular e tornarem-se frígidas? O âmbito sexual é algo pertencente somente ao macho? Estão nos tratando como bonecas infláveis e estamos permitindo? É isso? Pois prefiro adotar a castidade do que submeter-me a este tipo de comportamento pré-histórico. Não estou pedindo para que ninguém se case comigo, estou reivindicando um direito meu de ser tratada como ser humano. Estou reivindicando meu direito de ter prazer, e isso não faz de mim uma promíscua. Ora! Se eu fosse promíscua, não estaria tão revoltada como estou, o raciocínio é simples. Pena que raciocínio é privilégio de poucos..."
É assim que ela termina de escrever, e é então tomada por um vazio incontrolável e insuportável. O cansaço se abateu sobre ela. Hanna se rende e cai na cama, exausta. Encolhe-se e finalmente consegue dormir.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Hanna não conseguia mais conter seus instintos. Se sentia aprisionada e encontrou na escrita uma forma de libertar sua imaginação, extravasar os desejos que as vezes a impediam de dormir.
Por isso, criou um blog: cabaret. Ali era seu espaço, não precisava sentir vergonha, podia escrever abertamente para quem quisesse ler. Seu corpo podia estar aprisionado, mas sua alma era livre e sua imaginação passeava entre os mais diferentes tipos de amor. E para ela isso merecia ser contado.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Em busca de respostas


Hanna já não aguentava mais as sessões de terapia com a psicóloga e psiquiatra. Os remédios já não faziam mais efeitos, e já era quase um ano fazendo terapia sem obter nenhum resultado ou resposta. Ela queria entender porque era assim, por que se sentia tão improdutiva e desinteressada? E essas compulsões? Seus instintos falavam mais alto que a razão e sentia como se já não fosse dona do seu corpo, mente e coração. Tudo pertencia a algo que ela ainda não sabia explicar.
Para ela tudo começou na infância. Junto com a psicóloga recordou-se do dia em que foi molestada pela prima quando tinha apenas 4 anos! Nunca contou isso a ninguém, sua mente de alguma forma havia bloqueado esse episódio. Após se lembrar, pensou que era apenas uma mulher com a sexualidade mais aflorada, mas não. Hanna tinha relações e as vezes se masturbava em seguida. Os homens não entendiam, e como sempre, vinha a rejeição que ela tanto temia.
Por um longo período não se envolveu com ninguém, mas as vezes o desejo falava mais alto e ela então se tocava uma, duas, três vezes seguidas. E o orgasmo para ela era como enxergar o paraíso, um paraíso que durava alguns segundos porque em seguida ela estava de volta à sua realidade. A realidade que ela não aceitava, queria uma vida normal, mas não conseguia.
No dia da consulta com sua psiquiatra Hanna estava tensa. Estava disposta a questioná-la, queria entender, não ficaria ali sentada apenas escutando enquanto a médica receitava remédios.
Enquanto esperava ela observava o ambiente. As paredes eram de uma cor gelo, as poltronas confortáveis tinham cor de caramelo e havia plantas. Tapetes laranja alegravam a sala de espera e a recepcionista ficava atrás de um balcão marfim.
No entanto, o consultório parecia-lhe pálido. Era espaçoso e pintado de branco, a mesa da psiquiatra era de vidro e as cadeiras pretas. Alguns quadros decoravam o lugar, mas Hanna sentia frio toda vez que entrava ali.
Chega sua vez . Ela se senta de frente para a terapeuta e sem titubear, inicia seu discurso:
_Eu venho aqui há quase um ano, e a senhora me receita remédios e mais remédios, mas não me diz exato o que tenho. Não aguento mais! A senhora não sabe o que tenho passado, essas medicações nada valem, e a senhora insiste que eu as tome! Quero respostas doutora! O que eu tenho?
_Hanna por que isso é importante para você? Um nome é importante para você? Pensei que o essencial seria você viver sua vida - a psiquiatra é interrompida:
_Não! Quero um diagnóstico! E se for preciso me internar me interne, porque nem eu mesma me suporto! Por que me mutilo? Por que esse medo de rejeição? Por que esse vazio permanente? Por que? Por que?
_Tudo bem Hanna. Olha, você sofre de uma desordem emocional.
_Isso eu sei!
_Você se encaixa em um quadro chamado "transtorno de personalidade borderline", ou limítrofe.
_Borderline? Como a música da Madonna?
A médica ri, e tenta explicar a ela:
_É um transtorno muito difícil de ser diagnosticado porque ele envolve uma série de sintomas de outras patologias, entende?
_Sim. Por isso já fui diagnosticada com depressão, distimia, melancolia, mas nunca pensei ter uma personalidade doente.
_Veja bem, existem vários transtornos. O seu é o que chamamos de "doença do amor". Você tem relações sexuais para esquecer a rejeição, no entanto, ela vem, e aí você precisa disso novamente, criando assim uma compulsão, porque você não consegue lidar com suas angústias. E as vezes fica tão infantilizada que tudo que precisa é de um colo, um abraço e alguém que diga que tudo ficará bem.
Hanna derrama uma lágrima ao ouvir essas palavras. Muitas coisas se explicaram, mas também vieram mais perguntas:
_Tem cura?
_Não Hanna. Você pode ter o controle, muitas pessoas tratam comigo e têm esse transtorno e conseguem ter uma vida absolutamente normal. Veja, eu não quis te falar porque não queria que ficasse escrava de um nome, mas há muito tempo eu desconfiava. Você me ligava desesperada, chorando, e no dia seguinte chegava aqui como se nada tivesse acontecido, bem vestida e maquiada.
_ Por que eu?
_Não tenho resposta para isso. As doenças não escolhem classe social, religião, cor da pele. E não importa se são doenças físicas ou psíquicas. Olhe, tenho um livro aqui que quero que leia. Foi escrito por uma borderline que hoje tem uma vida praticamente normal, se formou, casou, tem filhos. Agora que você já sabe, é importante que você leia, pesquise, mas não seja escrava disto, entende? E nem deixe que ninguém a menospreze por isso.
_As pessoas já me menosprezam por muito menos, sou tão invisível que tenho que gritar para que me escutem. Eu não tenho controle doutora, simplesmente não tenho.
_Então nós vamos encontrar. Me diga, você ainda esta bebendo e fumando?
_Sim.
_Hanna você esta bebendo e tomando essas medicações?
_Não me censure, além do mais, venho falando que essas drogas de nada me servem!
_Ok. Vamos ver o que podemos fazer quanto a isto. Por hora, leve o livro e leia.
Hanna se levanta, coloca o livro na bolsa e sai sem se despedir. Estava atordoada, não sabia o que fazer. Ela olhava as pessoas na rua e tinha vontade de gritar por "socorro", mas mesmo que gritasse ninguém ouviria. As pessoas são apressadas demais, os carros passavam e ela desejava ser atropelada.
Chegando em seu apartamento, Hanna tira o livro da bolsa e o joga em cima da mesa. Vai para o quarto e começa a chorar. Chorava compulsivamente, e já cansada, pega uma lâmina e retalha a barriga. O choro cessa.As lágrimas então, se transformam em sangue.

sábado, 10 de setembro de 2011

Os bons tempos se foram


Hanna estava tendo constamente flaschbacks. Já estava morando naquela cidade há dois anos e lembrava-se quase sem querer do primeiro dia em que chegou ali. Aliás, lembrava-se de quando passou no vestibular: a alegria dos pais, dos familiares, mandaram fazer até uma faixa parabenizando a filha por ter passado no curso de psicologia!
E ela, além de estudar via também a oportunidade de fazer sua vida longe daquele lugar que pouco oferecia. Tinha tido dois únicos relacionamentos, mas o que queria mesmo era que sua vida profissional se iniciasse ali.
Os pais a levaram e ficaram uns dias até que se acostumasse com a nova rotina. Sempre superprotetores, iam com ela até o ponto de ônibus, e esperavam ao final da aula para irem juntos para casa.
Hanna moraria com mais três garotas da mesma cidade que ela. Estava empolgadíssima, queria aprender as tarefas da república, acordava às 5:30 da manhã para não correr o risco de perder a primeira aula. Andava pelas ruas tipicamente como uma menina do interior: nunca tinha visto tantas pessoas, tantos lugares diferentes. E ela não passara disso: uma menina.
O dia que os pais foram embora talvez tenha sido um dos dias mais tristes da sua vida, mas ela sabia que chegaria. Quando se viu só, olhou no espelho e disse para si mesma: "agora é com você".
Fez algumas amizades na faculdade, e as vezes saíam e Hanna era apresentada àquela maravilha. Os rapazes se interessavam por ela de uma forma como nunca tinha sido antes, procurava ser uma aluna aplicada, lia livros, apostilas, fazia todos os trabalhos, estudava feito louca para as provas.
Quando estava no segundo período, decidiu morar sozinha. Achou que precisava de mais privacidade e assim o fez. Conseguiu um apartamento no centro, o prédio não era novo, mas era silencioso e Hanna sentiu uma liberdade que jamais teve.
Sua rotina mudou. Estava agora sozinha, mas continuou se dedicando aos estudos. Mas foi no terceiro período que tudo começou a mudar. Hanna já chegava atrasada para as aulas, não conseguia mais ficar até o final e as matérias tornaram-se desinteressantes. E foi também no terceiro período que experimentou o primeiro cigarro de maconha, e tomou bebidas que lhe faziam esquecer a solidão em que se encontrava. Hanna já sentia o peso da solidão.
Se afastou das garotas da república, das amizades da faculdade e se envolveu com aquele que a usou como brinquedo para os amigos. O homem que transou com ela drogada e bêbada na frente de estranhos! E que a chamava de gorda depois de terem relações.

"Me tornei nisso que sou, e ninguém sabe, ou fizeram isso de mim? Acho que foi as duas coisas" - Hanna já não se autodenominava como pessoa, mas sim como "coisa", "isso", "aquilo". Nos momentos de lucidez lembrava-se dos bons tempos, da menina ingênua que sonhava com as flores nos cabelos e com o beijo que tinha visto na TV. Não suportava tais lembranças, e sempre precisava afagá-las com um copo de vinho ou um corte no corpo.
Apesar do calor, Hanna andava com blusas que cobriam todo seu braço porque sentia vergonha. Certa noite, após se cortar, foi para o computador e digitou:

"Por que me corto se vou sentir vergonha? Por que transo com qualquer um se sei que não vou ser amada? Eu não sei, só sei que não consigo parar! E por que minha psicóloga não diz logo o que tenho? Me entopem de remédios que não adiantam nada, porque continuo do mesmo jeito"
E com o sangue ainda saindo de seu braço, pega algumas gotas e escreve a palavra: "doente" na tela do computador.
Hanna não acreditava mais na psicologia, perdeu a crença no curso que sonhou em fazer, mas sobretudo, perdeu a crença em si mesma.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mais uma vez...


Depois de ficar um tempo em casa, Hanna tentou se dedicar mais aos estudos, no entanto, não conseguia. O que os professores diziam era para ela a mistura de pelo menos três idiomas desconhecidos. Ficar na aula era um tormento, as amigas ajudavam como podiam, sempre colocando seu nome nos trabalhos e nas provas, mas era inútil. Hanna estava em outro planeta, já não pertencia mais à realidade.
Certa noite, se sentindo sozinha, decidiu ir a um bar que ficava na esquina de seu prédio. Era um lugar simples, as paredes pintadas de amarelo, as mesas e cadeiras ficavam na calçada. Apesar do ambiente rústico, o atendimento era bom e o lugar era muito bem frequentado.
Ela se sentou e pediu uma cerveja. Novamente Hanna se sentiu alvo dos olhares curiosos, e ela só estava ali para espairecer, não queria nada mais além disso.
Enquanto tomava o segundo copo, um rapaz se aproximou e perguntou seu nome. Era de estatura média, moreno e tinha um jeito meio cigano. Hanna pensou que não tinha muito o que perder, e o convidou para sentar. Percebeu então que se tratava de uma pessoa completamente diferente daquelas que estava acostumada a lidar. Hanna era uma mulher culta, gostava de ler, de escutar boas músicas, e aquele rapaz que estava ali na sua frente pertencia ao que ela chamava de "massa popular". Ela, já alcoolizada, falava e falava e ele parecia não entender muito bem, aliás, o rapaz quase não se pronunciava.
Hanna tinha necessidade de falar, mas também de ouvir. Entendeu então que talvez o pobre moço estivesse com medo, porque uma das coisas que ela tinha certeza era a de que "mulheres pensantes assustam."
Mesmo com a diferença cultural, ela decide dar uma chance. Pensou que poderia conhecer um novo mundo, estava disposta a expandir seus horizontes e quem sabe com isso, aprender e ensinar também.
No mesmo dia dormiram juntos. Ele com sua simplicidade, a tratou com carinho, mas ao mesmo tempo era dominador e ela gostava disso, e sempre dizia que não havia mulher mais bonita para ele.
Apesar de estarem se conhecendo, e de Hanna gostar até certo ponto, isso não tirava o vazio que ela levava consigo. Continuava acreditando que abrir as pernas faria com que alguém se apaixonasse por ela, e então esqueceria os cortes, as feridas internas.
Não demorou para que os mundos distintos se chocassem. Ele não a entendia, ou não queria entender, porque as palavras de Hanna eram totalmente distorcidas, tudo era visto como ataque, e para se defender, ele atacava.
Conflitos culturais. Esse talvez seja um dos maiores impecílios que os casais enfrentam. Não sejamos inocentes em dizer que isso não tem peso algum, porque seria hipocrisia. Um relacionamento em que uma das partes quer crescer intelectualmente, enquanto que o outro não demonstra interesse em progredir, bem, não preciso dizer o que acontece porque imagino que os leitores já sabem.
Os dois tiveram uma discussão muito séria. Hanna fazia perguntas na tentativa de entender o que ela significava para ele, mas ele interpretava como cobrança, aliás, tudo para ele era cobrança. Sempre pedindo que ela se colocasse no lugar dele, alegando que teve um dia difícil e culpando-a por todo o desentendimento. Hanna só conseguia pensar: "Pronto! Estou levando a culpa por tudo de novo, e vou ter de me desculpar por algo que não fiz."
Ele chegou a dizer que não gostava daquela Hanna. Mas era aquela que conseguia ser! Por vezes infantilizada, explosiva, doce, carente, raivosa, autodestrutiva! Essa era Hanna! E o que a prendia a esse homem que nada acrescentava? Era o sexo, sua compulsão sexual novamente a mantinha cativa de suas angústias.
Ao final da discussão ele diz:
_Se estamos sendo desagradáveis um com o outro, então é melhor cada um seguir seu caminho.
_Tudo bem, já que é assim que você quer. - Disse Hanna friamente, porque ele não significava nada, mas ao dizer isso, o rapaz voltou atrás:
_Espera! Amanhã a gente se encontra e aí conversamos.
_ Você é quem sabe, mas você disse que cada um que seguisse seu caminho, então não te entendo.
Ele negou ter dito isto e Hanna ficou ainda mais confusa e furiosa. Pensava que qualquer coisa que viesse dele seria lucro.
_Olha, tudo bem. Se você quiser, você me procura. Tchau!
_Tchau! Beijos!
No dia seguinte, ela esperou sua ligação. Não queria conversar, queria transar! E ele não ligou. Percebeu então que nos dias de hoje a palavra dita não vale nada, as pessoas não cumprem o que falam, então por que falam? Hanna não conseguia entender e talvez jamais entenderia...
O círculo vicioso. Hanna não conseguia quebrá-lo por mais que tentasse, e agora sentia necessidade de ter prazer, precisava esquecer, precisava abrir suas pernas novamente para se sentir amada.
Vai até seu computador e escreve:

Eu sou uma doença. Grito por socorro e ninguém escuta porque estão todos apressados demais para ouvirem. Estou completamente sozinha, não tenho ninguém por mim, e nem autopiedade consigo sentir, só sinto autoaversão. E isso satisfaz os homens. Eles se divertem, vomitam seu gozo em mim, e depois fico com o vazio. Eu sou a escória.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Chegando no apartamento...

Hanna enfim chega ao seu aconchego. Estava sujo e empoeirado, como já era esperado, mas ela estava tão cansada que não teve ânimo para começar uma arrumação. Deitou-se na cama e ficou pensando em tudo que tinha acontecido, nas coisas que tinha feito.
Foram meses implorando amor a quem não podia oferecer nada além de uma noite de sexo, aliás, o sexo se tornou seu "aliado" para escapar do abandono, era a forma que ela encontrou de se sentir bonita, desejada e cuidada, mesmo que por alguns minutos.
Sempre que tinha esses sentimentos, queria mais sexo, bebidas. Hanna percebe então que tornara-se compulsiva, estava frágil e infantilizada, precisando de carinho, de uma mão que acariciasse seus cabelos.
As promessas que um dia fizeram seus olhos brilharem, martelavam sua cabeça e se sentia uma verdadeira palhaça. Sem pensar muito, Hanna vai até o banheiro, pega uma lâmina e faz um corte em seu braço. Suja um de seus dedos e pinta seu rosto de palhaço com o próprio sangue. Era assim que se sentia, era assim que se sentiu durante toda a sua vida.
Desde criança era motivo de riso dos colegas por causa do peso, e agora acreditava que era motivo de riso dos homens que satisfaziam seu prazer para depois se gabarem com os amigos.
Foi motivo de riso do homem que amou por 11 anos, mas que nunca teve coragem para assumí-la, era sempre a mesma justificativa: "quando duas pessoas se amam devem ficar separadas".
"Sim, sou uma palhaça. E por que somente eu não consigo achar graça em toda essa merda? Por que não consigo achar graça na covardia de homens que não sabem o que querem, e se escondem atrás de discursos falsos na tentativa frustrada de me enganarem, quando na verdade estão se engando a si próprios? Eles me acharam engraçada, riram de mim, me trataram como escárnio, e eu o que sinto? Não sei. Só sei que estou aqui sozinha, não tenho nada nem ninguém, e não é justo que eu pague por isso sozinha, não é justo que eu assuma as consequências e eles saiam impunes."
Hanna pronunciava essas palavras enquanto se olhava no espelho e não sabia o que fazer com os cacos que sobraram. Já não sabia mais se havia vida dentro dela, não sabia de nada mais. A única verdade que para ela era inquestionável, era aquela refletida no espelho.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Seguindo o caminho


Hanna estava cansada. O sonho que teve foi como um aviso para ela: "olhe! Veja a sua vida, até quando andará em círculo?" Era esta a única interpretação que conseguia fazer, e as lembranças vinham à sua mente constamente, como uma visita indesejada. Ela não queria recordar, não queria ver no que tinha se transformado sua vida, mas era inútil.
Hanna tentou se encontrar, no entanto, ficou mais perdida. Escondida atrás do discurso "mulher merece sentir prazer, se os homens podem, nós também podemos", entrou e saiu de relacionamentos instáveis, ia para cama para não sentir a rejeição, mas o abandono vinha de um jeito ou de outro.
Percebeu então que o sexo havia se tornado uma compulsão, olhava para os braços marcados pelos cortes, era também uma compulsão, sua obsessão por emagrecer, absolutamente tudo havia se tornado uma fuga momentânea, porque nada disso tirava aquele vazio que sentia. Hanna era doente, sua personalidade estava doente.
No dia seguinte após o sonho, teve uma conversa com Lucy:
_Lucy, vou voltar para meu apartamento.
_Mas, por que!?! - indagou Lucy surpresa e ao mesmo tempo indignada.
_ O problema não é você, não me olhe assim. Sou eu! Não aguento mais essa vida, não é isso que quero para mim, entende? Não a critico, é só que estou doente e preciso juntar o que sobrou de mim.
_Acho que você esta exagerando, Hanna o que seria da nossa vida se não fossem essas loucuras? Me diga!
_Lucy, o que posso dizer é que algumas pessoas conseguem lidar bem com isso, outras não. E eu faço parte do time das pessoas que não consegue. Me perdi de mim mesma, e agora tenho que me encontrar. Estou cansada de ser tratada como vômito em saco de lixo! Não quero as metades, quero o inteiro.
_Pelo amor de Deus! Você é sensível demais!
_Talvez eu seja mesmo. Mas olhe o que você chama de sensibilidade! Olhe meus braços! E essa necessidade estúpida de achar que se eu abrir as pernas para o primeiro, ele não vai me abandonar, vai segurar minha mão e dizer que tudo ficará bem.
_Você sempre soube que isso não acontece, não sei porque esta reclamando.
_Olhe, não vou discutir isso. Apenas estou cansada dessa vida desregrada, sexo, drogas, bebida, nada disso me preencheu. Será que você pode ao menos respeitar?
_Tá bem senhorita certinha. Mas vou sentir sua falta, isso você pode respeitar também, não é?
_Também sentirei saudades, sua doida!
As duas se abraçaram por um longo tempo, e Hanna foi arrumar suas coisas. Quando estava tudo pronto, apenas disse a Lucy que viria visitá-la. E Lucy desejou boa sorte com lágrimas nos olhos.
_Não chore minha amiga. Estou fazendo o que no momento considero o melhor, e se eu tiver de me perder de novo, que seja.
Saiu e não olhou para trás. Quando chegou na portaria do prédio, Hanna se perguntou se realmente estava fazendo a coisa certa, mas mesmo com a dúvida, continuou andando, de volta ao lugar que nunca deveria ter saído.

sábado, 27 de agosto de 2011

Menina Grande


Hanna minha menina
Por que esta fazendo isso com você?
Não percebe que existe aí dentro um paraíso repleto de cores?
E que não deve ser violado?


Minha menina me dê tua mão
Venha comigo
Cuidarei de você
Sei que agora se sente frágil, mas estou aqui

Teu sofrimento agora é meu também
Sentes a rejeição daqueles que não a mereciam

E choras por isto
Acreditas nas palavras duras que lhe disseram

Fizeram-na sentir o frio
A dor
O medo
A solidão

Estou aqui para lhe proteger
Porque sei que é somente isto que queres
Não carregues sozinha o fardo que colocaram em teus ombros
Venha! Lhe ajudarei!


Cuidarei de tuas feridas e estancarei teu sangue
Acreditas em mim? Não te abandonarei menina
Por isto, não tenhas medo

Trouxe-lhe flores e o sol mais luminoso
Só para que esqueças
Tens minhas mãos que afagam teus cabelos
Minha canção para embalar teu sono

E tens meu coração
Só para que esqueças


domingo, 24 de julho de 2011

O sonho

Já era noite e ela dormia. Ela. A mulher que teve de matar uma parte de si para continuar vivendo naquele caos. E por que então estava andando em círculos? Por que Hanna não conseguia andar em linha reta?
Estava em um labirinto, e em cada parte daquele lugar escuro e confuso tinha alguém que ela conhecia pedindo que fizesse sexo de todo tipo. Até Lucy estava ali se mostrando, mandando que Hanna a beijasse. Os dois homens que abusaram e a agrediram, queriam que ela fizesse ménage, Hanna podia ouvir vozes por todos os lados chamando-a, imagens eróticas apareciam, mulheres com homens, sexo grupal, fantasias bizarras, e ela de repente foi lançada para o alto e se viu dormindo no meio daquele labirinto. O labirinto era seu próprio corpo! As imagens e pessoas estavam em todas as partes, na sua mente, nos seios, na barriga, pernas. Hanna foi lançada de volta para o labirinto, ou seja, de volta para seu próprio corpo e sentia que se fizesse o que pediam, jamais sairia dali.
Encontrou um canto mais tranquilo e se agachou, ficou pensando em como sair dali, mas foi interrompida por uma voz:
"Hanna! Vai desistir agora? Esta vendo que seu corpo e sua vida se tornaram um labirinto?" - ela olha para o lado e se depara consigo mesma vestida de branco, fica assustada e mesmo assim escuta:
"O que acontece menina? Por que esta aqui? De quem quer fugir quando faz sexo? Eu sei. Quer fugir de você mesma, esquecer quem é e do que fizeram com você. No fundo você quer ser cuidada e amada, não é? Agindo assim, tudo que acontecerá é se perder cada vez mais dentro de seus próprios desejos. Isso tudo só traz um prazer fugaz, momentâneo, e sei que esta cansada, não esta? Sei que esta. Saia daqui Hanna e trace seu próprio caminho reto, não espere por ninguém. Vá!"
Hanna se levantou e saiu correndo sem direção e caiu. Nesse momento ela acorda assustada, olha para o lado, Lucy já tinha chegado e dormia. Se sentia cansada e estava suada, achou que um banho lhe faria bem.
Durante o banho, se lembrou de cada detalhe do sonho e começou a chorar. A voz parecia estar ainda na sua cabeça, não conseguia esquecer. "Preciso de um tempo para mim" - disse quase sem voz já saindo do banheiro e entrando no quarto.
Quando se deitou, percebeu que seria outra noite longa.

sábado, 23 de julho de 2011

O que esta acontecendo Hanna?


Hoje era um daqueles dias que Hanna queria ficar sozinha com seus pensamentos. Lucy a convidou para sair, mas ela se recusou, disse que não estava se sentindo bem e que precisava estudar.
Quando Lucy saiu, Hanna se trancou no quanto e começou a refletir: "Hanna, Hanna, o que esta acontecendo? O que há de errado?", sua pele esta mais espessa, o coração mais fortalecido, então por que estava se permitindo vivenciar sempre as mesmas coisas? Por que esta com a sensação de andar em círculos?
Sabia que já tinha experimentando várias formas de sexo, o que para ela não era ruim, já que podia distinguir com propriedade o que era bom e o que não era. No entanto, algo faltava, se sentia cansada, seu coração ainda estava machucado e já tinha necessidade de andar em linha reta, queria algo sólido, um ponto de equilíbrio.
"Estou tão cansada, quero chutar toda essa merda de uma vez. Estou cansada da mesma história, quero um filme diferente." - era o que pensava sentada na janela e olhando o movimento da rua.
Ela estava com a "síndrome da falta". Falta que todos sentimos e nem sempre sabemos a razão, porque tudo parece estar em tão perfeita harmonia, mas na realidade nos cansamos e queremos sempre mais. O que Hanna tinha era preocupação pela formatura que estava chegando, e ausência. Ausência de alguém, cansaço de migalhas, vontade de ter não só sexo, mas também carinho, atenção e sobretudo amor. Sentimentos que lhe foram negados, achava que não era merecedora, queria apenas viver como uma mulher "moderna" e se esqueceu da necessidade que todo ser humano tem de amar e ser amado.
"Então é isso! Sinto falta de amor, alguém que me escute e que me resgate de mim mesma."
Ao ter consciência do que de fato lhe afligia, seu coração se aquietou e pode enfim dormir mais tranquila.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Ménage


Domingo. Nada para fazer à tarde. Lucy e Hanna já estavam morando juntas e estavam entediadas, nenhum telefonema, nada na televisão, as duas estavam se sentindo no meio do nada.
Decidiram dividir o apartamento para redução de despesas, o pai de Lucy havia lhe cortado a gorda mesada e estava montando sua loja de roupas com as economias que juntou por anos. Hanna tinha o dinheiro que seu pai lhe mandava, mas preferiu morar com alguém, acreditava que a solidão não fizera bem, embora as vezes necessitava da mesma para os estudos, ou até mesmo para pensar, fumar seu cigarro, ouvir suas músicas, e nesses momentos, Lucy respeitava porque também necessitava da solidão.
_Hanna vamos dar uma volta? - disse Lucy já quase explodindo com aquele marasmo.
_Você é quem sabe Lucy, mas a cidade não deve estar tão diferente desse apartamento.
_Ah vamos! Pelo menos a gente não fica aqui olhando uma para cara da outra.
Se arrumaram, estava quente, Lucy vestiu uma bermuda com uma regata, e Hanna usava um vestido rosa claro com chinelos.
Lucy começou a dirigir a esmo. Não sabia exatamente para onde iriam, mas de repente viram uma rua cheia de gente, com música ao vivo, cadeiras por todos os lados e resolveram parar ali pelo menos para sentirem o ambiente.
_Hanna vou pegar uma cerveja, quer alguma coisa?
_Não, obrigada, por enquanto não, pode ir que te espero aqui.
Enquanto Lucy foi pegar a bebida, Hanna foi abordada por um homem bem mais velho e começaram a conversar:
_Oi. Tudo bem? Meu nome é Marcos.
_ Como vai? Sou Hanna.
_Muito prazer! Você é muito bonita, não pude deixar de observar quando você desceu do carro.
_Vejo que você é bastante observador, não?
_E eu vejo que além de bonita é inteligente.
_Sim eu sou.
Os dois começaram a rir, e enquanto Lucy voltava, também foi abordada por um rapaz e ela rapidamente se esqueceu de sua amiga, as vezes notava que os dois estavam rindo e viu que um outro homem se aproximou.
_Carlos! Deixa eu te apresentar a Hanna! - diz Marcos
_Muito prazer mocinha.
_Prazer, e obrigada pelo "mocinha".
Os três riram, e Hanna não pode deixar de observar que Carlos também era mais velho, os dois deviam ter entre 50 e 55 anos, não sabia ao certo.
_Hanna, você esta conhecendo o melhor médico da cidade!
_Ah o que é isso! E você esta diante do melhor fotótografo!
"Pronto! Começaram a rasgação de seda, homem em qualquer idade precisa sempre se gabar de algo?" - pensou consigo.
_ E os dois estão olhando para a melhor estudante da cidade e futura melhor psicóloga!
Os três começaram a rir, Hanna não sabia ao certo do que riam, mas ela ria dos dois que não tiravam os olhos de seu decote.
Ela procura Lucy, e nota que a amiga já estava muito bem acompanhada, e ainda fazia um sinal que Hanna não pôde entender.
Os três conversaram por algumas horas, convenceram Hanna de beber, ela aceitou, e não demorou muito para saírem dali. Foram para um lugar reservado, era um piano bar e pediram vinho tinto.
_Vamos brindar à beleza de Hanna! - disse Carlos
_Brindaremos à minha beleza e inteligência!
Os três já estavam ébrios, e não demorou para falarem de sexo.Partilharam intimidades, coisas que até mesmo Hanna ficou estarrecida, mas excitada. Eles a olhavam como se estivesse nua, e começou a gostar da sensação de ter dois homens desejando-a.
Os dois homens começaram a acariciar as pernas de Hanna, os garçons olhavam com olhar malicioso, e ela gostava daquilo, se sentia disputada, era como se pudesse escolher, mas não queria. Queria os dois.
Marcos estava ao seu lado, e lhe deu um beijo, enquanto Carlos pegou sua mão e a colocou em seu sexo. Hanna beijava um homem e acariciava outro, achou a sensação incrível, estava excitada, era uma situação totalmente inusitada.
Saíram dali e foram para um motel. Quando chegaram lá, Carlos apalpou os seios de Hanna, enquanto Marcos a beijava. Se despiram, e se deixou penetrar por carlos, enquanto fazia sexo oral no outro.
Estava êxtase. Eram quatro mãos acariciando seu corpo, eram dois homens disputando para terem aquela mulher que não continha mais seu prazer. Ficou de quatro, e inverteram os papeis, Marcos a penetrava com avidez enquanto ela fazia sexo oral no outro homem.
As vezes nem ela entendia o que estava acontecendo, só sabia que gostava daquela sensação de ser possuída por dois homens.
Foram para a banheira e ela sentou em Marcos. Enquanto os dois transavam, Carlos se aproximou de Marcos e lhe ofereceu seu membro para que ele chupasse. Hanna nunca tinha presenciado algo tão erótico, aquilo fez com que logo ela tivesse seu orgasmo, e os doi levaram para a cama. Seu corpo mollhado pela água e pelo gozo atiçaram ainda mais os dois e Hanna não pode se conter, deixou que os dois a penetrassem. Era um prazer indescritível! Um homem lhe penetrando o sexo e o outro o ânus, tocavam seus seios, puxavam os cabelos e ela sentia que tinha total domínio por eles, eram seus escravos que estavam ali, se submetendo a qualquer coisa para dar-lhe prazer.
E foi com esse pensamento que ela goza de novo, os outros também gozaram, mas Hanna só queria sentir aquele momento que tinha sido único para ela. Sempre ouvira sobre ménage, mas não podia imaginar que fosse tão bom.
Vestiram suas roupas, e eles a deixaram na porta do prédio onde morava.
_Adorei rapazes. Foi um prazer conhecê-los.
Enquanto Hanna descia do carro, eles a interromperam perguntando quando se veriam de novo.
_De novo? Quem sabe o acaso não nos traga sorte? - e entrou rindo no prédio.
Lucy estava na sala com o rapaz que tinha conhecido.
_Hanna onde você estava?
_Depois te conto.
Tomou banho e foi dormir cansada, mas extremamente satisfeita por ter experimentado algo novo. Era como se estivesse vivendo tudo, porque sabia que o melhor ainda estava por vir...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O toque



Quero ser tocada
Quero mãos em volta do meu corpo
Sentindo minha respiração ofegante
O suor saindo dos poros
Seios que endurecem
Líquidos escorrendo pelas pernas
E no meio dessa confusão erótica
Gemidos, sussurros
Orgasmos
Sem medo de ser censurada
Beijos, línguas
Por todos os lados
É só um corpo procurando prazer

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Festa


Hanna ficou uns dias na casa de Lucy. As duas se tornaram grandes amigas, saíam juntas e sempre conversavam sobre suas intimidades, Hanna contou sobre seus namoros, sua vida conturbada, os estupros e Lucy falou da relação difícil com a mãe. Era de família rica, mas somente seu pai lhe dava o apoio que necessitava, tanto afetivo quanto financeiro.
Estava chegando uma festa tradicional da cidade: a festa à fantasia. Lucy queria ir de pirata, e Hanna decidiu ir de dominatrix.
_Dominatrix? Mulher isso não combina com você! - disse Lucy espantada
_ Combina sim. Depois de tudo que aconteceu adoraria ter um homem me adorando, totalmente submetido a mim. Me tocar? Só se eu quisesse. Lucy no sexo, é a mulher quem deve comandar, não percebeu isso ainda?
Lucy olha para Hanna e as duas começam a rir. Hanna mostra a Lucy sua roupa: uma minisaia de couro, com um corselet também em couro e uma capa transparente e um chicote tudo na cor preta.
_Nossa você ficou gostosa! Vem cá deixa eu tirar seu corselet - disse Lucy brincando. E assim era a relação das duas, brincadeiras, assuntos sérios, confidências.
Chega o dia da festa. O local era aberto e haviam várias tendas, em cada uma delas era um show diferente, e quando as duas entraram, todos ficaram olhando paralisados. Alguns não entendiam a fantasia de Hanna, mas outros ficaram loucos ao ver uma mulher vestida de domme, usando batom e unhas vermelhas.
_Parvos! Ficam com a ilusão ridícula de comandarem, mas o que querem mesmo é uma mulher que os submeta às mais constantes humilhações. - Dizia para si mesma enquanto caminhava em meio à multidão.
Dançaram, beberam, e Hanna decidiu acender um cigarro encostada em uma árvore. Olha para o lado e reconhece o homem que a esbofeteou e estuprou vestido de cigano encarando-a. Hanna não se deixou intimidar, retribuiu o olhar e acenou com a cabeça.
Ele se aproxima:
_ Oi Hanna.
_Como vai?
_Bem. Você esta muito bonita. Diferente, esta mais magra, vestida de domme, só cortou o cabelo que pena...
_Sim. Homens como você devem lamentar quando uma mulher corta o cabelo.
_Por que?
_Porque vocês são pré-históricos, e aí uma mulher de cabelo curto fica sem ter o que puxar. Somente homens inteligentes e diferentes gostam de mulher com o cabelo curto.
_Nossa! Não precisa falar assim! Continuo te achando sexy e tenho saudades daquele tempo.
_Sabe que eu também tenho?
Lucy olha para Hanna e faz um sinal como se estivesse pedindo para que ela saísse dali. Hanna diz algo no ouvido daquele homem e os dois saem, Hanna faz um sinal para Lucy pedindo que tenha calma.
Os dois entram no carro e vão para o motel. Era o mesmo que costumavam frequentar. Quando entram no quarto, ele apaga a luz.
_Acenda a luz! Quem foi que disse que quero a luz apagada?- diz Hanna impaciente
Ele obedece e começa a se aproximar de Hanna. Quando estava a ponto de beijá-la, Hanna pega seu chicote e bate com ele na cama.
_ Você tá louca? Quer que eu te pegue de novo e te ensine a usar esse chicote?
_Vem, pegar! Sabe o que vai acontecer? Você vai preso. A minha amiga sabe que estou aqui com você, se me acontecer qualquer coisa você vai preso. E nós sabemos que sua ficha não é muito limpa, não é?
Ele fica imóvel.
_Então, acho melhor ficar quieto e fazer o que eu mandar, certo? Pode ajoelhar! Anda!
Ele se ajoelha e se rasteja até os pés de Hanna, olha para cima com os olhos cheios de água.
_Beija seu verme!
Ele beija os pés de Hanna, e não conseguia entender que aquela situação de humilhação excitava-o, embora não quisesse admitir.
_Tira a roupa!
_ E você não vai tirar?
_Eu mandei você tirar, é surdo por acaso? Rápido, ainda quero voltar para a festa.
Ele tira a roupa e Hanna manda que ele se sente em uma cadeira. Amarra suas mãos e quando percebe que esta imobilizado, Hanna tira a saia e fica somente com o corselet.
_Deixa eu te beijar! Por favor, tô implorando! Deixa!
_Cala a boca! E Hanna lhe dá uma bofetada que o faz cair no chão.
_Quem manda aqui sou eu. Agora você esta vendo como é bom levar uma bifa não é? - e enquanto dizia, pisava em seu pescoço. - Você é um porco, sabe que olhando assim para você fico até com pena. Não você não merece piedade e nem que eu lhe conceda nada. Muito pelo contrário.
Hanna se posiciona de maneira que a cabeça dele ficasse entre suas pernas, e ela então urina em sua boca e estranhamente ele bebe o liquído, engolia como se fosse um elixir, como se precisasse daquela bebida para matar sua sede.
_Pronto, isso é tudo que terá de mim. - dizia enquanto vestia sua saia e calçava os sapatos.
Pegou o celular, e ligou para Lucy.
_ Pode vir me buscar.
_Espera Hanna! Vai me deixar amarrado aqui? Me solta pelo menos!
Hanna olha para trás com um olhar altivo e diz:
_ Te vira.




domingo, 17 de julho de 2011

Vivenciando fantasias


Hanna era uma mulher sem medo de ousar. Aprendeu a trabalhar sua sexualidade a seu favor, aprendeu a transar por prazer, sua cabeça não tinha preconceitos, acreditava que como ser humano merecia ter o que todos tinham.
Foram dois estupros. Em sua mente ela acreditava que precisava ter o prazer que lhe foi negado.
Certa noite, alguns amigos apareceram a convidaram para sair. Tomou um rápido banho, vestiu uma roupa preta com botas pois estava um pouco frio. Quando entrou no carro, já lhe ofereceram um cigarro e uma taça de vinho:
_Hanna hoje vamos comemorar!
_Legal, mas comemorar o que exatamente?
_Ué, hoje é aniversário da Juliana, esqueceu?
_Cara que vacilo! Nossa Ju me desculpe, parabéns!
_ Tá tudo bem, a gente só quer que você venha comemorar, no lugar que eu escolhi, topa?
_ E onde é?
_Uma boate GLS
_Ah gente até parece, né? Acham que vou ficar de frescurinha para entrar em uma boate? Vamo embora então!
Chegaram na porta e estava cheia de gente. Hanna só pensava em se divertir com seus amigos, contavam piadas, riam como se ninguém observasse.
Conseguiram entrar, e o ambiente era lindo! Luzes verdes iluminavam dançarinos e dançarinas que ficavam em uma espécie de gaiola, dançando semi-nus. Haviam pessoas de todos os tipos: gays, heteros, lésbicas, clubbers e a música era contagiante, impossível ficar parado.
Depois de duas horas ali, Hanna pediu um tempo para tomar água, foi até o bar. Enquanto esperava para ser atendida, percebeu que estava sendo observada. Olhou para o lado e viu uma bela loira, de cabelos platinados, estatura média, unhas vermelhas e roupas pretas como as de Hanna. Ela não teme o olhar de Hanna e a cumprimenta:
_Tudo bem?
_Tudo bem, obrigada, e você?
_Bem. Muito prazer, meu nome é Lucy.
_ O meu é Hanna, prazer!
_ Será que eu podia te pagar um drink?
_Obrigada, só vim pegar uma água.
Vendo a expressão de decepção de Lucy, Hanna resolveu aceitar:
_Ok, tomo um drink com você, mas depois preciso voltar para os meus amigos, estão me esperando.
_Sem problemas.
Pediram duas doses de martinis e ficaram conversando coisas triviais. Ambas moravam na mesma cidade, Lucy era filha de banqueiro, e Hanna explicou que estava ali para concluir os estudos.
_Posso te perguntar uma coisa? - diz Lucy
_Claro.
_Tu curte mulher?
Hanna deu uma risada, e as duas começaram a rir.
_ Cara nunca experimentei.
_Se eu te contar uma coisa, não fica assustada? Sou bi, e te achei a mulher mais bonita desse lugar.
Hanna sentiu um frio na barriga. Era a primeira vez que ouvia um elogio de uma mulher, ficou baratinada, queria sair dali, mas ao mesmo tempo queria ficar, não soube o que dizer e caiu na gargalhada já ébria pelo vinho e o martini.
Sem pensar duas vezes, Lucy a beija de surpresa e Hanna corresponde. A única coisa que pensou foi que aquele beijo era o mais delicioso que já havia experimentado.
Lucy a puxa para a pista de dança, Hanna toma o restante do martini, e as duas começam a dançar sensualmente. As pessoas pararam para olhá-las, Lucy ia por detrás de Hanna, colocava a mão em sua cintura e sentia o cheiro do seu pescoço. Hanna estava completamente seduzida por aquela mulher de unhas e lábios vermelhos.
Lucy coloca uma cadeira no meio da pista. Senta Hanna e começa a dançar sobre ela, sentava em seu colo e beijava seu rosto, sua boca, acariciava e puxava seus cabelos ao mesmo tempo. As pessoas aplaudiam extasiadas com a cena.
Depois de dançarem, Lucy puxa Hanna e saem correndo da pista e entram em um lugar privado.
_Lucy tenho que ir - dizia Hanna rindo
_Psiu! Hoje você passa a noite comigo.
Lucy beijou ardentemente Hanna, e quando percebeu que ela estava excitada, puxou-a novamente, e saíram da boate no carro de Lucy. Enquanto dirigia, Hanna era acaraciada nas partes íntimas, elas se beijavam em pleno trânsito e era como se só existissem as duas.
_Lucy você é louca mulher! Pra onde você tá me levando?
_Para o meu apartamento, quero fazer amor com você.
Hanna a encara com um misto de medo e desejo.
_ Por que você me atrai? Eu não sou lésbica nem bi. Mas você tem algo que não me deixa dizer não.
_Então não diga não! Deixa eu te mostrar o que nenhum homem foi capaz de fazer.
Chegaram no apartamento, era pequeno, mas muito bem decorado, os objetos verdes, quadros por toda a parte, e no quarto de Lucy uma cama de casal e um quadro de duas mulheres nuas se amando.
_Vem, deita na cama.
Hanna obedece e começa a sentir as mãos de outra mulher tirando sua roupa. Hanna se viu completamente nua e entregue a uma estranha, aquela situação lhe causava medo, mas tambéma excitava. E Hanna fez o mesmo: tirou as roupas de Lucy, e as duas estavam ali, nuas em uma cama de casal.
_Não sei o que fazer - diz Hanna meio envergonhada.
_ Não se preocupe, eu ensino você.
Lucy deita por cima de Hanna, e a beija. Hanna se entrega àquela sensação inusitada e prazerosa, retribuía as carícias e os beijos. Lucy tocava e beijava os seios de Hanna com cuidado, mas também com avidez e só se escutava os gemidos naquele quarto escuro.
Todo o corpo de Hanna foi acariciado e beijado. Quando Lucy chegou no sexo, Hanna se contorceu, pedia que não parasse, e as mãos daquelas mulheres se encontraram, era como se Lucy dissesse: "confie em mim".
Hanna não conseguiu por muito tempo e teve seu orgasmo. Um gozo que nunca tinha sentindo antes, e Lucy lambia das pernas de Hanna aquele líquido que jorrava de seu sexo.
_ Você é linda! - disse Lucy no ouvido de Hanna, já quase adormecida.
Lucy a abraçou por trás e adormeceram juntas como duas mulheres livres que eram.

Ela se ama de novo

Já era tarde e Hanna não conseguia dormir. Seu corpo queimava pelo calor e pelas lembranças de noites em que foi amada. Apesar de tudo que sofreu, Hanna sentiu prazer, sentiu o gozo escorrer por entre suas pernas e ela queria isso de novo, mas não para esquecer quem era, e sim porque reconhecia sua condição de mulher e sabia que merecia todos os prazeres do mundo.
Usava uma camisola branca quase transparente, levantou-se da cama, e ficou em frente ao espelho observando as curvas de seu corpo sob o pano leve e fluído.
Vagarosamente, Hanna tira a camisola e começa a se olhar, estava mais magra e a visão lhe agradava. Tocou seus seios e reparou como eram macios, logos ficaram duros e Hanna sorriu com uma risada marota, mas ao mesmo tempo sensual.
Ela queria sentir tudo. Tocou os cabelos, a pele do rosto, seu pescoço, os ombros cor de jambo, seios, barriga até colocar delicadamente a mão sobre seu sexo. Ah que sensação maravilhosa! Poder se dar prazer, algo indescritível que só mesmo uma mulher sem pudores conseguiria.
Hanna deita-se na cama. Abre suas pernas, acaricia as coxas, coloca os dedos na boca e em seguida, deixa-os escorregar até seu clitóris. Ela pensava consigo que se as mulheres soubessem explorar seu corpo, seriam sexualmente mais satisfeitas.
Continuou movendo seu clitóris, e ao mesmo tempo tocava os seios. A velocidade foi aumentando porque Hanna estava sedenta e quanto mais mexia consigo, mais queria. Os seios estavam duros, a pele arrepiada, podia sentir o liquído escorrendo de suas mãos, e nesse movimento frenético, Hanna tem seu orgasmo, o gozo que ela mesma se proporcionou.
Colocou os dedos na boca porque queria sentir seu sabor. Estava exausta, mas feliz. Permaneceu nua durante horas na cama, até adormecer se sentindo bem consigo mesma, feliz por ter se amado mais uma vez como nenhum homem foi capaz.