sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da dúvida


Hanna sentia-se vazia, apática. Estava cansada de palavras, e hoje era como se uma arma tivesse atravessado seu ventre. Doía o peito, o coração. E tudo que ela quer é desabafar sua tristeza:

"Estou cansada. Cansada de escutar palavras vãs, promessas ao vento e que têm o único intuito de me ridicularizar, me usar. Estou farta! Farta de me fazerem de palhaça, não permitirei isso mais! Sou uma mulher que não tem medo de dizer o que pensa e se isso assusta o problema é de vocês que não sabem lidar comigo. E me acusam de que? Me culpam de que?
Meu coração é meu e de mais ninguém. Não o entregarei assim tão facilmente, nunca mais!
As palavras que escutei só me jogaram nesse buraco que me encontro, por isso, pegue-as, não preciso de mentiras! Nunca precisarei!
Meu coração e minha alma se fecharam. Não há mais nada para acreditar, estou só comigo mesma e com meus pensamentos que para muitos podem ser insanos, mas esta sou eu.
Se quer algo de mim, então faça por merecer, venha e mostre atitudes, não palavras!"

Hanna se sentia sozinha, mas era um tipo de solidão diferente. Ela queria estar só porque de repente começou a acreditar que assim estaria protegida.
Estava introspectiva, na faculdade perceberam, mas ela não podia evitar, era o que tinha dentro de si. Fugia de qualquer tipo de contato porque já conseguia prever o desfecho: seria rejeitada como foi tantas vezes, e antes que isso acontecesse, Hanna dizia não e sufocava seus desejos com as lembranças do passado que sofrera.
Seus sonhos foram ofuscados por um estado permanente de dúvida. Hanna estava morrendo...

sábado, 8 de outubro de 2011

Ela não passara de uma criança


Era sábado e Hanna tinha acordado muito bem disposta! Levantou mais cedo, foi até o supermercado e depois foi dar uma volta no centro da cidade. Aquilo lhe fazia bem, andar, ver as pessoas, olhar as vitrines e depois voltar para casa cantoralando algumas músicas com as mãos cheias de sacolas.
Chegando em casa, ela guarda suas compras e diz para si mesma; "hoje não vou fazer nada. Vou ficar tranquila, e talvez mais tarde eu ligue para a Gabriela."
Gabriela era sua melhor amiga. Estava ajudando Hanna a se recuperar na faculdade, e as vezes ela ia para sua casa quando sentia falta dos pais. Gostava daquele clima familiar, a comida de mãe, o carinho que todos tinham com ela. Nesses momentos, Hanna se sentia em casa totalmente protegida por seus pais e era como se nada de mal pudesse acontecer.
Seus planos já estavam traçados para aquele dia: iria almoçar, descansar, e depois ligar para Gabriela. Talvez ligasse para Lucy, afinal, não tinha tido mais notícias desde que saiu de seu apartamento. Acreditava até que Lucy estava magoada com sua decisão, mas Hanna não podia fazer nada, sentia-se cansada daquela vida desregrada. "Bem, se ela esta chateada comigo, não posso fazer nada, fiz o que achei que fosse o melhor para mim". - Era o que pensava.
Hanna preparou um almoço simples e rápido, lavou a louça e deitou-se em sua cama. Quando estava quase adormecendo, foi surpreendia com o barulho do celular, procurou o aparelho ainda sonolenta até encontrá-lo. Viu bem a chamada e estava escrito: "Ricardo". Se surpreendeu! Ricardo foi um dos primeiros homens que ela conheceu naquela cidade, e já fazia muito tempo que não se falavam. Atendeu com a voz lânguida:
_Alo? Ricardo! Tudo bem?
_Oi Hanna! Estou atrapalhando?
_Não, pode falar.
_Tem muito tempo que não nos falamos, não é?
_Dois anos para ser mais exata. Depois você começou a namorar.
_Pois é. Nossa que saudade daquele tempo! Eu gostava de você, sabia?
_Gostava? Então por que não namorou comigo?
_Ah eu era muito bobo Hanna.
_Sei. Mas você ligou pra que mesmo? Tá precisando de alguma coisa?
_Liguei pra gente conversar, pensei em te chamar pra sair hoje.
Hanna ficou emocionada. Já fazia muito tempo que alguém não a convidava para sair, e ficou empolgada com a ideia. Sem titubear perguntou:
_E onde você quer me levar?
_Bem, terminei meu namoro há pouco tempo, pensei que poderíamos ir para um lugar mais reservado, entende?
_Sim, claro! Conheço uns barzinhos tranquilos, se você quiser podemos ir em algum.
_Você ficaria brava se eu te convidasse pra ir a um motel?
Ela sentiu seu coração ser invadido por uma raiva descomunal, as mãos ficaram trêmulas, o vômito ficou preso na garganta. Apenas se limitou em dizer:
_Ficaria sim.
_Mas por que? Era tão bom quando a gente se encontrava, você gostava.
_Mas agora eu não gosto. Se quer conversar comigo, tudo bem, mas não vou para um motel com você.
_A gente não precisa fazer nada Hanna, só conversar.
_Quer mesmo que eu acredite nisso? Que você vai me levar em um motel e não vai tentar nada? Olha, posso ser destrambelhada, mas burra eu não sou!
_Somos maduros não somos? Somos responsáveis pelo que fazemos.
_Eu não sei como alguns de vocês conseguem ser tão nojentos. Vá se foder!
E Hanna desliga o telefone. Novamente se sentiu vulnerável, e era como se tivessem tirado seu sossego, sua paz. Ela se agachou no chão e começou a chorar copiosamente, vários pensamentos depreciativos passavam na sua cabeça, um deles é que ela merecia aquele tratamento e agora não adiantava acreditar e querer uma vida diferente. Uma vida com flores, passeios em parques, risos, olhos nos olhos, Hanna se sentia indigna de ter tudo isso.
Com dificuldade ela se levanta, vai até o computador e escreve:
"Quis brincar de ser mulher, mas no fundo sou uma menina assustada. E agora só queria o colo da minha mãe me ninando, o abraço do meu pai, me sinto desprotegida. Por que fazem isso? Por que? Não sei lidar com essas situações, por isso sou uma criança que sonha com o príncipe encantado! Boba sentimentalóide!"
E continuava chorando. Tomou alguns calmantes e adormeceu pensando nessa estranha contradição que formava sua personalidade: de um lado, uma mulher sem medo de dizer, fazer e escrever o que pensa, e do outro, uma menina que só queria um afago. Hanna tentou afastar essa criança, mas vez ou outra ela ressurgia pedindo, implorando para que seus sonhos, a pureza dos seus sentimentos não fossem mortos, e que esquecesse o salto alto, a maquiagem e fosse simplesmente: Hanna.

domingo, 2 de outubro de 2011

Da luxúria ao desejo de amor sincero


Hanna era uma mulher dividida. Haviam duas: uma era formada pelos instintos mais primitivos e que estava se fazendo presença constante. Desejos quase incontroláveis faziam-na recorrer à sua válvula de escape: a escrita. Textos eróticos aplacavam momentaneamente a chama que ardia dentro de seu peito. Ela lia e relia os próprios contos e queria ser as personagens, queria vivenciar tudo aquilo: o sexo, a lascívia, devassidão.
Por outro lado, existia outra Hanna. Calma como um piano, que queria apenas sentir o vento nos cabelos, talvez ir para uma praia e ficar ali sentada na areia apreciando o mar. Esta Hanna sentia falta de amor, algo que ela ainda não tinha conhecido, e na sua imaginação tudo parecia muito singelo: mãos dadas, passeios nos parques, flores nos cabelos e o sexo como ato sagrado, não profano, e sim o momento da consolidação de um sentimento puro e simples.
"Minha doença é falta de amor. Nunca me senti amada, por isso acho que não mereço nada." Foi essa a frase que escreveu no seu computador, e esta tinha sido a conclusão que tinha chegado depois de tanto se debater consigo mesma.
Andava nas ruas e olhava os casais. Se perguntava o tempo todo "por que não comigo? Será que sou tão monstruosa assim?". Dentro do seu pequeno universo, Hanna criava teorias sobre essas pequenas rejeições:
"As pessoas talvez não gostem da espontaneidade. Isso deve assustar, mas eu não me considero tão assustadora assim, muito pelo contrário. Sou bastante tímida, apenas quando estou envolvida com alguém, eu falo e faço! Que mal há nisso? Não consigo entender. É assim que as coisas funcionam então? As pessoas camuflam seus sentimentos, suas vontades tudo isso em nome de um orgulho? E ainda conheci algumas que se diziam francas! Isso para mim é usar máscaras, e será que terei que colocar uma também para que as coisas fluam? Me chamam de estranha, afoita, desesperada, e eu pensava que estava apenas sendo sincera com os outros mas sobretudo comigo mesma..."
Hanna pensava, sentia, amava, queria com uma intensidade tão grande, que as vezes ela mesma se perdia diante de sentimentos que para ela eram muito fortes. Mas, ela não sabia ser de outro jeito. E hoje ela desejava profundamente sentir o amor, aquele desmedido, incontido, desregrado! O amor que ela via nos filmes, e que dentro de si, sabia que existia, tinha certeza!
Hoje, Hanna era apenas uma menina romântica.