Não sei se tive a oportunidade de escrever aqui no blog que faço faculdade de pedagogia. Já estou no úlitmo período, e como todos sabem, há um trabalho final de cunho científico que temos que entregar, para garantir nossa graduação.
Pois bem, há quase dois anos, realizamos um seminário sobre distúrbios de aprendizagem, e o tema que apresentei foi o Bullying Escolar. Desde então, comecei a pesquisar sobre o referido assunto, porque já pensava que este poderia ser o tema da minha monografia, e após o seminário, esse desejo de aprofundar minhas pesquisas sobre o Bullying se fortaleceu durante o estágio de regência, quando me deparei com uma turma do 2º ano do ensino fundamental, onde todas as crianças tinham apelidos. Algumas não se importavam, até achavam graça, mas outras se mostraram visivelmente desconfortáveis e reclamaram durante toda a aula.
Não pude fazer muito, estava ali como estagiária, não conhecia a turma e isso me limitou um pouco, apenas "chamei a atenção" daqueles que estavam perturbando os colegas.
A aula terminou e saí com a sensação de que algo poderia ser feito, um projeto, uma discussão sobre as diferenças, sobre tolerância. Não sei se isso foi apenas um lapso utópico, mas foi a confirmação que eu precisava para pesquisar sobre o Bullying.
Mas o interesse real não surgiu nem com o seminário, e nem com este episódio. Fui vítima de Bullying durante minha infância e parte da adolescência, isso me trouxe incontáveis prejuízos, mas só pude entender que tinha sido vítima deste fenômeno quando começaram a discutí-lo com mais seriedade.
Comecei a escrever este post com o intuito de contar um pouco a minha história, mesmo sabendo que pessoas sádicas poderão achá-lo engraçado. Não tem importância, estou dando "a cara à tapa", batam se achar necessário!
Sempre fui uma criança quieta, um pouco calada, nunca fiz grandes travessuras como por exemplo: subir em árvore, fugir de casa, contar grandes mentiras. O que eu gostava mesmo era de brincar de casinha com as minhas bonecas.
Me lembro como se fosse ontem do meu primeiro dia na escola. É engraçado porque eu não queria ir, sei que isto esta relacionado com o medo do incerto, do desconhecido, mas as vezes me pergunto se não seria um pressentimento do que viria acontecer anos mais tarde.
Fui uma criança acima do peso. Fui motivo de chacota dos coleguinhas durante todo o primário, só porque eu não me encaixava no padrão que eles julgavam necessário para se ter um pouco de paz.
Me lembro de que eu não podia me levantar, porque colocavam o pé na frente só para me verem cair, não podia pronunciar qualquer palavra porque era cruelmente chamada de "baleia, gorda". E o engraçado é que eu me culpava por isso, sentia uma enorme culpa por ser do jeito que era, sentia inveja das meninas que eram magras, até que fui me retraindo na tentativa de ser o menos notada possível.
Mas essa ideia não deu certo. Certo dia, quando tinha 9 anos, na saída da escola, três meninos me perseguiram durante todo o meu trajeto da escola/casa, me empurrando, me chamando de "baleia", rindo e verificando a todo tempo se eu estava chorando. As pessoas na rua assistiam a tudo e achavam graça. Me lembro de perguntar aos três o motivo daquilo, por que estavam fazendo aquilo comigo, e eles riam e diziam "ah cala a boca sá!"
Me senti injustiçada. Eram três meninos contra uma menina! Cheguei em casa e disse para a minha mãe que nunca mais queria voltar para a escola, contei o que havia acontecido, e ela na tentativa de me acalmar, disse que era assim mesmo, era "coisa de criança".
Não me senti satisfeita, e contei para a professora no dia seguinte. Ela disse que depois iria castigá-los, mas pelo o que sei nada foi feito e continuei sendo humilhada até terminar o primário e mudar de escola.
Esse episódio ocorrido na infância, me trouxe prejuízos que até hoje carrego comigo. Sou insegura em tudo o que faço, não consigo me ver magra por mais que eu tente ou por mais que me digam, tenho a sensação de que tudo o que eu fizer nunca será suficientemente bom.
Agora, gostaria de explicar o motivo de ter escrito que algumas pessoas poderiam achar engraçado e até mesmo exagerado o meu pequeno relato. A razão é bem simples: algumas pessoas consideram divertido rir do outro, zombar e fazer chacota. Desvalorizam a dor alheia, a diferença alheia. A isto chamam de "sadismo", estou certa? O prazer quase que orgástico em ver o sofrimento do outro...
Como futura pedagoga, posso afirmar: não nos iludamos! Crianças podem ser cruéis quando querem, por isso não ignoremos a reclamação aparentemente inocente de uma criança que se sente incomodada com o apelido. Ignorar é ser conivente com a crueldade e impunidade, e afinal de contas, que tipo de cidadãos os pais e professores querem formar? Deixo em aberto esta pergunta, sintam-se à vontade para responder se julgarem necessário.