sábado, 26 de fevereiro de 2011

Fatal

Creio que nunca tenha escrito alguma crítica sobre filmes. O motivo é bem simples: sou passional demais para analisar os detalhes técnicos que os “entendidos” se atém, no entanto, ontem assisti a um filme que me despertou a atenção.

Trata-se de “Fatal” baseado na obra do escritor Philip Roth, e dirigido pela cineasta espanhola Isabel Coixet, diretora de películas como: “Minha vida sem mim”, e “A vida secreta das palavras.”

David Kepesh, interpretado brilhantemente por Ben Kingsley, é um renomado professor univesitário, crítico de arte e que sente seu ego inflado por saber que é objeto de desejo de suas alunas (necessidade de autoafirmação). Toda essa autoconfiança cai por terra no dia em que ele conhece Consuela Castillo (Penélope Cruz, que quando bem dirigida consegue convencer), uma jovem segura de si, inteligente e bonita.

Eis que o professor de meia idade se vê envolvido com a jovem quase 30 anos mais nova. David se torna inseguro, não só pela idade, por se sentir velho, mas porque ele sabia que um dia aquele relacionamento chegaria ao fim, já que ele não conseguia manter uma relação estável com nenhuma mulher.

David vive essa paixão. Sua vida encontra-se em total desequilíbrio, ele teme um futuro com Consuela, sente que esta envelhecendo e segundo ele mesmo diz: “Consuela tem toda a vida pela frente.” E ele não?

Apesar do filme mostrar toda a insegurança de David, o que para o expectador torna-se compreensível, compreendemos também o lado de Consuela. Jovem, linda, e que quer viver essa paixão, a diferença de idade nunca foi um obstáculo para ela, pelo contrário, ao lado de David ela se sente segura, se sente alguém...

Então, o que impediria esse romance? Bem, David tem um caso puramente sexual com uma mulher há mais de 20 anos. Ela é seu alicerce, é ela quem oferece o equilíbrio que David tanto necessita. Isso fica evidente também quando George (Denis Hopper), seu melhor amigo, um homem que foi infiel a vida inteira, adoece e se vê sob os cuidados de sua esposa traída. Será isso então que os homens precisam? Alguém que não coloque em xeque seus sentimentos, desempenho sexual, suas vidas perfeitamente planejadas? E a mulher? Do que ela precisa?

A relação com o filho é algo delicado e difícil. O filho, um homem já casado, médico, culpa o pai por ter abandonado o lar. Essa relação foi pouco explorada, pois não fica claro se David tentou realmente uma aproximação com o filho. A grande questão é que quando o rapaz questiona esse “abandono”, David é categórico: “fui honesto.” E de fato o foi, foi honesto com sua ex-mulher, com seu filho e até consigo mesmo. Mas fica a pergunta: estaria ele sendo honesto com Consuela e com seus sentimentos? Se escondendo atrás da insegurança e do medo de envelhecer?

Um outro ponto que pode ser discutido, é sobre a beleza da mulher. “As mulheres bonitas são invisíveis”. E são mesmo! A maioria das pessoas não se interessa em enxergar verdadeiramente uma mulher bonita. Vistas como objetos sexuais, alguém para se passar uma noite e depois se gabar com os amigos, ninguém sabe como são sozinhas e que choram durante a noite, ou que são apreciadoras da arte (no caso de Consuela).

Bem, essa não é uma resenha crítica, até porque não conseguiria fazê-la. Cinema é algo pessoal demais, por isso decidi levantar apenas alguns pontos do filme que podem ser discutidos e que talvez nem tenham tanta relevância assim para quem já assistiu. No entanto, como já dito, filmes são extremamente subjetivos e por esta razão apresento apenas alguns questionamentos que despertaram meu interesse. Mesmo se não concordarem com meus "devaneios", fica a dica para quem tem sensibilidade e acima de tudo, não sente preguiça de refletir sobre as relações humanas, suas fraquezas e inseguranças.

4 comentários:

Ulisses A. disse...

''Devaneios'' - sempre sóbrios, não é... rs
Como sempre, seus textos são muito bem redigidos. Me admira muito você não escrever poemas, etc..
;).
Ainda pensando, sobre a sua última msg'

Hanna disse...

Obrigada Ulisses! Fico lisonjeada com seu comentário, afinal, você é um escritor, e eu apenas externo aquilo que sinto e vejo.
Em breve você vai parir a estrela que dança! Não se esqueça disso!

Elber Corrêa disse...

Lidiana,

Só pelos questionamentos que fez já me deu vontade de assistí-lo, texto como dito, muito bem redigido só discordo quanto a qualidade da Penelope Cruz, que pra mim quase sempre vai muito bem e seus filmes despertam certa atenção. Mas é questão de gosto.

Mesmo que tu não se atreva a criticar pois é para ti passional, continue com os comentários sobre filmes, peças, etc sua opinião é sempre relevante.

Até porque, foram os filmes que me trouxeram você.

Beijo, se cuida.

Hanna disse...

Obrigada Tico pelo comentário! Bem, eu realmente acredito que Penélope Cruz se encaixa mais no quesito "estrela" do que o de atriz. Acho que ela deveria continuar com cinema espanhol, sendo dirigida por Almodóvar mais precisamente.
Bem, seu comentário me encorajou a ousar mais esse lado, e digo para vocês: assistam o filme!
Um beijo grande Tico!