domingo, 20 de março de 2011

Corpo e Alma


"Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"
Rubem Alves

Este fragmento de Rubem Alves me fez lembrar da história de Sherazade e as Mil e uma noites. A história é sobre um rei chamado Xeriar que a cada noite se casava com uma moça virgem do reino. Após consumado o casamento, Xeriar mandava matar a esposa com quem passara a noite.
Eis que um dia a bela Sherazade se oferece para se casar com o rei, e é claro que todos já sabiam o que acontecia com as moças escolhidas. O pai lhe pede para que não vá, pois não queria perder a filha, mas seu pedido foi em vão, Sherazade estava determinada, e se caso fosse enfretaria seu destino cruel.
O casamento se realiza e na noite de núpcias, quando os corpos já haviam encontrado os prazeres da carne, Sherazade começa a falar, contar histórias. Histórias que nunca tinham sido ouvidas pelo rei, e Xeriar aquele homem rude e implacável fica inebriado com as palavras, entorpecido com a grandeza do espírito da mulher que estava ao seu lado, Sherazade que já era bela, tornou-se ainda mais bela aos olhos do rei. Como não desejar aquela mulher inteligente que lhe oferecia muito mais que uma noite de prazer? Como não amá-la? Ele finalmente havia encontrado a mulher que sempre procurou.
Sherazade não morreu. Viveu com o rei que soube admirá-la e desejar a cada dia mais aquela alma inquieta, errante que não se contentava com uma única existência. O rei se identificou com cada palavra dita por Sherazade, e não apenas por sua beleza física. Afinal, Sherazade era uma mulher incomum. E passaram mil e uma noites sentindo os prazeres do corpo e da alma, afinal, um complementa o outro.

3 comentários:

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Nossa, gostei de ambos os textos, pois você fez um paralelo muito inteligente acerca do texto de Rubem Alves e da história de Sherazade. Concordo com você em gênero, numero e grau. Disseste bem sobre o quanto um relacionamento precisa dos dois prazeres para ser um relacionamento sadio e maduro! Belíssimo texto. Parabéns mais uma vez pelo blog...

Elber Corrêa disse...

É isso aí, confesso que penso no conselho de Nietzche em meus relacionamentos, sobretudo nas amizades.

E te digo, que lhe vejo de forma muito similar a moça citada em seu texto sobre as 1001 noites.

Não atrai somente pela beleza mas também pela inteligencia, por ser incomum, única.

Por isso seus leitores assíduos sempre voltam, comentando cada post, cada opinião.

Então, te devolvo a pergunta: Como não amá-la?


Beijo!
Se cuida.

Hanna disse...

Obrigada rapazes pela participação. Seus comentários só me motivam a escrever, mesmo que não tenha nexo algum.
Beijo grande!