sexta-feira, 27 de maio de 2011

A tentativa de ser uma "Mia"


Todas aquelas palavras que Hanna ouviu àcerca de seu peso, estouravam todos os dias em seus tímpanos como se fossem rojões. Lembrava-se constantemente das humilhações que sofreu na infância e na adolescência, e não conseguia esquecer por mais que tentasse.
Se olhava no espelho, experimentava todas as roupas e odiava a imagem refletida, era inútil, por mais que tentasse se conformar, as ofensas se tornaram uma verdade inquestionável para ela, era irreversível.
Os sentimentos acerca de si mesma eram ambivalentes, as vezes pensava que alguém gostaria dela daquele jeito, e as vezes pensava que as coisas só aconteceriam se emagrecesse. Mas o pior era não poder compartilhar com ninguém esses pensamentos que a consumiam a cada dia mais. Sentia vergonha de si mesma, de ser quem era, Hanna estava com vergonha até de existir.
Certo dia, já sufocada por suas angústias, sentou-se para escrever e redigiu a seguinte frase: "eu devia tentar algo radical para emagrecer. Se eu começar a vomitar, talvez não sinta tanta culpa."
Hanna sabia o que isso significava. Estava tão obcecada que tentou desenvolver algum distúrbio alimentar, porque em sua mente era preferível ficar doente, pois assim pelo menos seria magra. Estava disposta a tudo, era como se não tivesse nada a perder.
Quando terminou de escrever a frase no seu computador, não pensou duas vezes e correu para o banheiro. Abriu o armário e pegou sua escova de dentes, olhou para aquele objeto em suas mãos e se perguntava se estava certa do que queria: "sim, preciso fazer isso. Vou conseguir, depois vai ficar mais fácil, o início é sempre mais difícil" - dizia na tentativa de se convencer.
Hanna se agacha em frente ao vaso sanitário e inclina a cabeça. Fecha os olhos e coloca a escova de dentes dentro da boca, tentando abrir o máximo para que a escova alcansasse sua garganta. Doía e ela parava. Recomeçava o ritual, mas quando sentia dor, parava. Ficou nesse processo até sua garganta sangrar e as lágrimas brotarem dos seus olhos.
Persistindo nesse ritual sádico, Hanna vomita, mas ao fazê-lo é tomada por uma tontura e com muita dificuldade consegue se levantar e ir para o quarto. Estava fraca, pálida, a garganta doía e sangrava, e a verdade que para ela era incontestável, continuava ali dentro, não tinha ido embora com o que fora expelido.

3 comentários:

FAMÍLIA FREIRE disse...

Passear pelo seu blog é fazer uma viagem pelos labirintos da alma, tentar decifrar os mistérios que nos instigam na busca do nosso conhecimento.
Um beijo
Darci
mineyro.uai@gmail.com

Hanna disse...

Obrigada pela visita e pelo comentário. Sabendo que é escritor,fico lisonjeada com seu comentário.
Beijo grande!

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Alma, é o que posso dizer de mais esse post!!! Aliás não tenho mais o que dizer, não dá! Tudo é tão forte intenso e que nos leva a pensar que não dá pra comentar... Parabéns Lidiana por cada dia mais nos apresentar essa magnífica mulher que é a Hanna!!!