terça-feira, 14 de junho de 2011

O início


Hanna decide não voltar para casa. Após uma longa conversa com seu pai, ela o convenceu de que ficaria bem, e não queria voltar. Seu pai era um homem compreensivo e generoso, sempre procurou entender todos os dilemas da filha e vendo-a mais segura e com feições diferentes, também sentiu segurança em deixá-la.
Recuperaram os móveis e Hanna viu seu apartamento como era antes. Mas algo havia mudado, o ar estava diferente, a própria Hanna estava diferente, tinha emagrecido e suas faces estavam rosadas, embora ainda continuasse com os tratamentos.
Foi com seu pai até à rodoviária, seu pai não conseguiu conter o choro e lhe disse:
- Filha por favor, se cuida! Lembre-se de que sua mãe e eu estaremos lá, sempre de portas abertas para recebê-la.
Hanna delicadamente colocou as mãos no rosto do pai, enxugou suas lágrimas dizendo:
- Não chore pai. Vou ficar bem, e sei que posso contar com vocês. Mas é que agora algo em mim mudou. Já não sou mais mesma desde o dia em que recebi a carta de Bones. Sei que o caminho não será fácil. Ninguém disse que seria, mas vou enfrentar. Não preciso ir embora como se estivesse fugindo de algo, não preciso sentir vergonha. Os valores que vocês me ensinaram estão aqui dentro.
Os dois se abraçaram e seu pai ficou mais tranqüilo ao ouvir aquelas palavras. No fundo ele sentiu orgulho de ver que aquela menina que ele havia carregado no colo tinha se transformado em uma mulher. O ônibus saiu e Hanna já sabia para onde iria. Pegou o primeiro lotação e parou na porta de um cabelereiro. “É aqui, tudo vai mudar aqui.”
Os leitores devem estar se perguntando o que tem a ver uma ida ao salão de beleza. Talvez estejam pensando que ela simplesmente quer mudar o visual, porque assim quem sabe sua autoestima ficasse mais elevada. Ocorre, que para a mulher, cortar o cabelo não esta associado a um simples ato de vaidade. É como se fosse um ritual, cortar os cabelos significa coragem e determinação, e no caso de Hanna isso para ela teria um peso maior, já que sempre ouviu das pessoas: “não corte nunca seus cabelos, sua beleza esta neles.” Seria um desafio. Agora, Hanna entendia que sua essência não estava nas madeixas, ela estava totalmente consciente do que queria, seria o início de uma nova fase.
O salão era muito bonito, com fotos de modelos famosas espalhados por todos os lados, revistas de beleza, cadeiras confortáveis e o clima parecia amistoso. As paredes pintadas na cor gelo davam um ar de limpeza ao ambiente. Todos os funcionários estavam uniformizados, vestiam aventais brancos com o nome do salão: Magnífica. Estava vazio, e Hanna foi atendida por uma moça muito educada:
- Pois não? No que podemos ajudar? Você tem hora marcada?
- Na verdade não. Eu estava passando na porta e decidi entrar.
-Ah sim, entendo. Bem, você esta com sorte porque hoje o salão esta vazio. E então? O que vai querer fazer? Manicure, hidratação, limpeza de pele...
- Na verdade quero cortar os cabelos!
- Quer tirar umas pontas, né? Isso faz bem, ainda mais para um cabelo enorme que nem o seu, precisa tirar as pontas para fortalecer e tirar aqueles ganchinhos, sabe?
-Não quero tirar só as pontas. Quero cortá-lo de vez. Quero me livrar desse cabelo, quero um corte curto e moderno.
A atendente fica pasma. Olha para o cabelo de Hanna e para seus olhos convictos: - Moça seu cabelo é lindo! Você parece uma índia! Nunca te disseram isso? Por que quer uma mudança dessas?
- Porque sou muito mais que um cabelo. E depois cresce, não é? E aí posso cortar?
- Sim! Claro! Sente-se aqui, vou te dar algumas revistas para você escolher, ok? – a atendente ainda não acreditava.
- Obrigada.
Hanna começa a folhear várias revistas e se depara com uma foto da atriz Winona Rider. “É esse! É assim que quero!” – foi seu primeiro pensamento.
- Moça, quero esse corte!
- Nossa você não acha que é curto demais? Tá quase raspado!
-Não! É esse que eu quero, pode cortar.
A cabeleireira então umidece os cabelos de Hanna, separa-os mecha por mecha e começa a cortar. Enquanto isso, Hanna já tinha fechado os olhos e só sentia que algo estava caindo no chão. Não teve coragem de se olhar e ficou com os olhos fechados por pelo menos duas horas.
- Olha! Tá pronto! E não é que ficou lindo?
Ela se olha no espelho e solta uma gargalhada. As atendentes não entendem aquele gesto e se olham com ar desconfiado.
- Desculpem, estou rindo porque amei o resultado! Ficou melhor do que eu esperava! Hanna se levanta com uma satisfação que há muito não sentia, paga o serviço e sai agradecendo mil vezes. Ao sair do salão ela experimentara uma sensação de liberdade inusitada. Era como se tivesse usado um espartilho apertado por anos e agora enfim tivesse conseguido desamarrá-lo. Estava segura, feliz. E mais que isso, pronta para encarar sua nova vida.

2 comentários:

Larissa Gouvêa disse...

Fico feliz que Hanna mudou depois da carta de Bones .
Mudanças sempre são dolorosas , mas não têm como evitá-las , podemos apenas procrastiná-las ... mas um dia elas acontecem . E Hanna está em constante mutação e para a melhor ♥

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Pois é Hanna renasce das cinzas! A velha Hanna que sofreu nas mãos de vários homens que abusaram, machucaram-na, fisicamente e mentalmente, ficou pra traz, morta por vontade própria! Morreu a velha Hanna para dar lugar àquela que resolveu abrir as asas e voar! Hanna vive e mais que nunca quer ser feliz e continuar em seu vôo rumo à felicidade! Parabéns Lidiana pelo post e parabéns à Fênix/Hanna!