terça-feira, 12 de julho de 2011

Encontro inesperado


No dia seguinte, Hanna se levantou mais cedo para fazer suas compras semanais. Acordou bem disposta, cantando, tinha dormido bem, estava renovada. Nem se produziu muito como fazia antigamente, numa tentativa frustrada de chamar atenção seja lá de quem fosse, dessa vez se vestiu com simplicidade: um vestido estampado com pequenas flores e uma sandália baixa. Sentia-se especialmente à vontade.
Foi ao supermercado como era de costume e comprou frutas, produtos de uso pessoal, leite e pão. Todos a olhavam admirados, pois como já era conhecida pelos funcionários, eles se espantaram com a mudança de visual e o bom humor de Hanna:
_Hanna você teve coragem de cortar o cabelo? Nossa adorei a mudança!
_ Ah obrigada! Ouvir elogios é sempre bom.
_Parabéns pela mudança e pela beleza!
Hanna saiu do supermercado com as palavras da funcionária em sua cabeça e pensou que se soubesse disso, teria cortado o cabelo antes.
Enquanto voltava para casa, Hanna escutou uma voz chamando seu nome. Olhou rapidamente para ver quem era, e quando se deu conta, suas feições mudaram. Seu olhar alegre e amistoso tinha se transformado em olhar de despreso e indiferença. "Ele, aquele imbecil que deixou que seus amigos me vissem" - falava baixinho enquanto esperava aquele homem se aproximar.
Sim, ela esperou. Não fugiu como faria em outra ocasião, ficou em pé na calçada esperando-o, e estava muito tranquila e fria o bastante para conversar.
_ Oi Hanna! Que bom te ver!
_Olá! Como vai?
_Bem, e você me parece muito bem, cortou o cabelo, emagreceu.
_Sim estou muito bem.
_Sabe, tenho saudades de você, das nossas loucuras. Lembra-se? A gente era muito louco, né? Cara, às vezes fico viajando e lembrando, você foi a pessoa mais porra louca que conheci. Tu curtia cada coisa! A gente podia marcar de sair um dia desses, ainda mais agora que você tá com esse visu novo, nossa ia ser demais!
Enquanto ele falava, Hanna apenas ouvia. Quando chegou sua vez de falar, levantou a cabeça devagar, e encarou-o com um misto de sentimentos: era piedade e indiferença. Mas não perdeu a oportunidade de responder de acordo com o que estava sentindo:
_Engraçado. Enquanto você falava, compartilhava comigo seu momento de nostalgia, esperando que eu também ficasse nostálgica, eu não consegui, por quê? Vou de dizer o motivo, eu mudei muito, sei que muitas coisas foram culpa minha, mas isso me fez mudar. E vendo você, percebo que você continua no mesmo lugar de onde te achei. Sabe onde? Na merda. Cara, você já tem uma certa idade quando é que vai cair em si? Não sente vergonha da sua filha? Um dia ela vai crescer e vai ver o belo pai que tem, e posso garantir que ela não ficará orgulhosa.
Quando Hanna pronunciou essas palavras, ele abaixou a cabeça e uma lágrima caiu de seu rosto.
_Olha, desculpe se fui grosseira, eu que sempre disse que nunca seguiria seu exemplo. Não queria humilhar você, apenas fui honesta. Agora, tenho que ir, ok? Te cuida!
Hanna deu as costas, e ele ficou parado de cabeça baixa na calçada. Ela continuou andando como se nada tivesse acontecido, e parou em uma sorveteria. Ficou ali sentada, observando o movimento e saboreando seu sorvete de leite condensado.

Um comentário:

Eduardo Ferreira Dias de Souza disse...

Hanna mais uma vez mostra sua força, mostrando que pode mudar sua história, sua vida! É isso garota! Vida, viver, continuar, andar, caminhar, ser Feliz!!! Parabéns Lidi...