quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mais uma vez...


Depois de ficar um tempo em casa, Hanna tentou se dedicar mais aos estudos, no entanto, não conseguia. O que os professores diziam era para ela a mistura de pelo menos três idiomas desconhecidos. Ficar na aula era um tormento, as amigas ajudavam como podiam, sempre colocando seu nome nos trabalhos e nas provas, mas era inútil. Hanna estava em outro planeta, já não pertencia mais à realidade.
Certa noite, se sentindo sozinha, decidiu ir a um bar que ficava na esquina de seu prédio. Era um lugar simples, as paredes pintadas de amarelo, as mesas e cadeiras ficavam na calçada. Apesar do ambiente rústico, o atendimento era bom e o lugar era muito bem frequentado.
Ela se sentou e pediu uma cerveja. Novamente Hanna se sentiu alvo dos olhares curiosos, e ela só estava ali para espairecer, não queria nada mais além disso.
Enquanto tomava o segundo copo, um rapaz se aproximou e perguntou seu nome. Era de estatura média, moreno e tinha um jeito meio cigano. Hanna pensou que não tinha muito o que perder, e o convidou para sentar. Percebeu então que se tratava de uma pessoa completamente diferente daquelas que estava acostumada a lidar. Hanna era uma mulher culta, gostava de ler, de escutar boas músicas, e aquele rapaz que estava ali na sua frente pertencia ao que ela chamava de "massa popular". Ela, já alcoolizada, falava e falava e ele parecia não entender muito bem, aliás, o rapaz quase não se pronunciava.
Hanna tinha necessidade de falar, mas também de ouvir. Entendeu então que talvez o pobre moço estivesse com medo, porque uma das coisas que ela tinha certeza era a de que "mulheres pensantes assustam."
Mesmo com a diferença cultural, ela decide dar uma chance. Pensou que poderia conhecer um novo mundo, estava disposta a expandir seus horizontes e quem sabe com isso, aprender e ensinar também.
No mesmo dia dormiram juntos. Ele com sua simplicidade, a tratou com carinho, mas ao mesmo tempo era dominador e ela gostava disso, e sempre dizia que não havia mulher mais bonita para ele.
Apesar de estarem se conhecendo, e de Hanna gostar até certo ponto, isso não tirava o vazio que ela levava consigo. Continuava acreditando que abrir as pernas faria com que alguém se apaixonasse por ela, e então esqueceria os cortes, as feridas internas.
Não demorou para que os mundos distintos se chocassem. Ele não a entendia, ou não queria entender, porque as palavras de Hanna eram totalmente distorcidas, tudo era visto como ataque, e para se defender, ele atacava.
Conflitos culturais. Esse talvez seja um dos maiores impecílios que os casais enfrentam. Não sejamos inocentes em dizer que isso não tem peso algum, porque seria hipocrisia. Um relacionamento em que uma das partes quer crescer intelectualmente, enquanto que o outro não demonstra interesse em progredir, bem, não preciso dizer o que acontece porque imagino que os leitores já sabem.
Os dois tiveram uma discussão muito séria. Hanna fazia perguntas na tentativa de entender o que ela significava para ele, mas ele interpretava como cobrança, aliás, tudo para ele era cobrança. Sempre pedindo que ela se colocasse no lugar dele, alegando que teve um dia difícil e culpando-a por todo o desentendimento. Hanna só conseguia pensar: "Pronto! Estou levando a culpa por tudo de novo, e vou ter de me desculpar por algo que não fiz."
Ele chegou a dizer que não gostava daquela Hanna. Mas era aquela que conseguia ser! Por vezes infantilizada, explosiva, doce, carente, raivosa, autodestrutiva! Essa era Hanna! E o que a prendia a esse homem que nada acrescentava? Era o sexo, sua compulsão sexual novamente a mantinha cativa de suas angústias.
Ao final da discussão ele diz:
_Se estamos sendo desagradáveis um com o outro, então é melhor cada um seguir seu caminho.
_Tudo bem, já que é assim que você quer. - Disse Hanna friamente, porque ele não significava nada, mas ao dizer isso, o rapaz voltou atrás:
_Espera! Amanhã a gente se encontra e aí conversamos.
_ Você é quem sabe, mas você disse que cada um que seguisse seu caminho, então não te entendo.
Ele negou ter dito isto e Hanna ficou ainda mais confusa e furiosa. Pensava que qualquer coisa que viesse dele seria lucro.
_Olha, tudo bem. Se você quiser, você me procura. Tchau!
_Tchau! Beijos!
No dia seguinte, ela esperou sua ligação. Não queria conversar, queria transar! E ele não ligou. Percebeu então que nos dias de hoje a palavra dita não vale nada, as pessoas não cumprem o que falam, então por que falam? Hanna não conseguia entender e talvez jamais entenderia...
O círculo vicioso. Hanna não conseguia quebrá-lo por mais que tentasse, e agora sentia necessidade de ter prazer, precisava esquecer, precisava abrir suas pernas novamente para se sentir amada.
Vai até seu computador e escreve:

Eu sou uma doença. Grito por socorro e ninguém escuta porque estão todos apressados demais para ouvirem. Estou completamente sozinha, não tenho ninguém por mim, e nem autopiedade consigo sentir, só sinto autoaversão. E isso satisfaz os homens. Eles se divertem, vomitam seu gozo em mim, e depois fico com o vazio. Eu sou a escória.

5 comentários:

♣Poppy disse...

A busca incessante de respostas e caminhos que não sabemos nem mesmo quais são. Se Hanna encontrar seu caminho, eu vou com ela....

amor,

♣Poppy

Unknown disse...

FORTE!!
Mas, por mais que sexo seja bom, que a gente precise desse prazer (e eu também preciso tanto disso), a Hanna não parou pra pensar que é melhor comprar um vibrador, fazer um pacto de celibato consigo mesma por um longo período? Okay, não é a mesma coisa, mas talvez seja a única forma de romper com esse ciclo, mas é melhor do que machucar a alma dessa forma! Eu tenho dominado meus impulsos a muito custo! Na hora, fico furiosa comigo, mas, no dia seguiinte, o orgulho que tenho de mim é IMENSO! E NADA PAGA A SATISFAÇÃO DE NÃO TER ME DESPEDAÇADO! Ainda mais eu, que me despedaço por tão pouco... rs

Srta Solidão disse...

Adoro todos posts... Seguindo... A busca incessante de respostas nos faz perder um tempo imenso... to tentando não pensar muito mais...

Carol disse...

Essa história tbm dá direitinho pra personagem "Ana".
=/
chorei lendo.
SOmos parecidas demais.

Carol disse...

Somos parecidas demais.
Vc escreve oq eu penso, o que eu faço, o que eu sinto, o que eu sofro, e o que eu erro.